Este post foi publicado na passada 4ª feira, no blog 1/4 de Fada, a propósito da nova geração de pais e filhos. Sempre que o trabalho lhe permite uma folga, a Fada é uma comentadora assídua neste meu espaço das 6ªas feiras, dedicado à educação. Professora, mulher e mãe de dois filhos quase adultos, as suas opiniões têm sempre um valor a dobrar, por aquilo que diariamente enfrenta, profissional e pessoalmente.
Como acontece com todas as pessoas deste Bairro, não conheço pessoalmente esta Senhora, mas há empatias que são incontornáveis, principalmente quando se discutem temas tão sérios como este. Todos aqueles que já comentaram este post, na passada 4ª feira, poderão voltar a comentá-lo, dado que as reflexões a este nível nunca são demais.
“O filho não pode crescer a pensar que é o rei da família. É tão importante como outra pessoa lá de casa. Não menos. Mas também não mais.”
Esta afirmação é feita por Javier Urra, psicólogo clínico e pedagogo terapeuta que trabalhou durante três anos com jovens conflituosos no Centro Nacional de Reeducação de Cuenca. É professor de Psicologia na Universidade Complutense de Madrid e vice-presidente da Associação Ibero-Americana de Psicologia Jurídica e assessor e patrono da UNICEF. Entre 1996 e 2001 foi o primeiro Provedor de Menores em Espanha e o primeiro presidente da Rede Europeia de Provedores de Menores.
O seu livro, “O Pequeno Ditador”, ajuda-nos na nossa função de pais e educadores a estabelecermos limites e regras e a sabermos dizer não, condições que ele considera fundamentais na educação.
Segundo ele os pequenos ditadores são filhos de uma geração de pais obedientes – assim chamados porque quando eram pequenos obedeciam aos pais e outros adultos. Agora que são pais submetem-se aos caprichos dos filhos e são pais permissivos, submissos, volúveis e indecisos.
«É uma geração de pais complicada. Chamamos-lhe a geração “sanduíche”: é a geração que obedecia aos pais e aos professores sem discutir, e até obedecia aos cidadãos mais velhos sem questionar nada. Era a autoridade sem explicação: “Fazes isto porque eu mando”, ou “sai daqui porque isto são conversas para adultos”. Agora as crianças exigem explicações antes de obedecer (quando obedecem), querem participar nas decisões familiares, e esta inversão da “ordem” faz com que os pais estejam, assustados.»
Para Javier Urra a partir de 1985 começou o nascimento da “geração de filhos tiranos”. As famílias destas crianças não têm necessariamente a forma tradicional da família nuclear (pai, mãe e filhos). Na generalidade pai e mãe trabalham e muitas vezes as crianças vivem apenas com um dos progenitores. Estas crianças “esperam ser orientadas, mas não controladas ou obrigadas a obedecer sem uma razão; o trabalho é visto como um mal necessário e a vida como algo que deve ser desfrutado em cada momento e que realizar coisas exija o mínimo de esforço. Para elas, o futuro está no presente e o passado não interfere ou não influi decisivamente no hoje”.
«A criança tirana vive em famílias pequenas, é intolerante, individualista, exigente de acção imediata, tende para o isolamento e o hedonismo. Os pais preocupam-se com a satisfação dos caprichos dos filhos e convertem-se “em pais obedientes dos seus filhos”.Preferem ser vistos como amigos e companheiros e não impõem regras, por receio que os filhos “sofram” e se “frustrem”, sem valorizar as implicações que isso possa ter na formação das crianças.
Tudo começa quando o bebé nasce. O bebé é muito egoísta para sobreviver. Mas em adulto pode até dar a vida por uma causa justa. E isto depende da sua educação. O altruísmo aprende-se. Mas tem de ser aprendido em casa.Se uma criança pequena, de três, quatro anos, pedir coisas, fizer birras, bater nos pais para fazer valer a sua vontade e conseguir vencer a batalha, isso é alarmante. As crianças podem ser muito obstinadas, muito irritantes, muito frustrantes. Nós, os pais, temos que ser serenos, temos que saber vencer as batalhas, não nos podemos deixar chantagear. “Se não me dás isto, é porque não gostas de mim”. Temos de lhes dizer: “Gosto muito de ti. Muito. Mas não vou dar-te isto.”
Educar pressupõe assumir responsabilidades. E andamos a relaxar muito. Os pais têm que impor regras e disciplina. E, no que diz respeito aos professores, é fundamental que o Estado imponha normas. Nós pertencemos a uma geração cujos pais sancionavam os filhos.»
Deixa-nos uma pergunta pertinente: os pequenos ditadores, quando forem pais, vão deixar que os filhos sejam ditadores?
9 comentários:
Provavelmente...
Há muitos maus exemplos que são seguidos, sobretudo no que toca aos valores que recebemos dos pais.
Beijinhos.
Sou capaz de ousar dizer que levantarão a mão por dá cá aquela palha.
Os pequenos ditadores, uando forem pais, provavelmente, vão torná-los filhos que se tornarão pais "sanduiche", ou filhos rebeldes, ou ainda, como assisto, de perto, a filhos que são uma coisa em casa e outra fora de casa e que odeiam o progenitor que lhes é tirano.
Quando se teve uma infãncia atribulada, costuma dizer-se (em Adulto)não vou querer para os meus filhos aquilo que os meus Pais me deram.
O certo é que nem todos conseguem fazer isso, ou fazem o mesmo , ou fazem pior ainda.
Quando se Cresce num meio mais Ríspido, em que os Pais foram "Duros" para dessa forma os filhos serem Alguém no futuro, mutas dessas pessoas tentam mesmo com os seus (agora)filhos, para que eles sintam na pele o que os seus progenitores sofreram, mas estará isto bem?
Há várias formas de Educar, mas o saber educar com respeito não é de forma alguma ser-se DITADOR.
Mas pior ainda e muito pior mesmo, é perder-se o respeito por um filho e deixar que estes não tenham respeito por nimguém e muito menos pelos pelos pais.
Como sabe escrevi esta semana sobre o buylling e ontem estive nemua conferência sobre o assunto e vou aqui colocar o cpy-paste do meu comentário hoje no vilaforte, mas a chave da "coisa está no último parágarfo do texto:"Educar pressupõe assumir responsabilidades. E andamos a relaxar muito. Os pais têm que impor regras e disciplina. E, no que diz respeito aos professores, é fundamental que o Estado imponha normas. Nós pertencemos a uma geração cujos pais sancionavam os filhos.»
-------------
Algumas vezes temos opiniões sobre determinados assuntos que ao ouvir determinados experts sobre essa matéria, leva a que tenhamos de alterar a nossa posição, ontem não foi, infelizmente, o caso.
Também estive na sesssão temática sobre o bullying, também fiquei preocupado.Fiquei preocupado por ter ouvido uma educadora de infância a relatar que tem caso de bullying onde trabalha e não sabe o que fazer, falta de competência nesta área, preocupado porque afinal , apesar de menos grave do que nos grandes centros como Lisboa, o buylling existe nas nossas escolas e parece que pouca gente se preocupa,"sempre foi assim" e preocupa-me porque vi ontem que mais de 50% do buylling no Concelho de Leiria se passa dentro das salas de aula e os Professores nem os "cheiram".
Para quem diz que sempre foi assim, devia ter ouvido o que mudou do nosso tempo para cá.
Falou-se na desagragação das familias,falou-se na intenção clara de fazer mal aos outros e de forma sitemática, falou-se no prazer de humilhar os outros,...
Que me desculpem os que dizem que "sempre foi assim", mas nós os do meu tempo só andávamos à "bulha" por causa da bola, hoje era um bom dia para andar à bulha(5-1)....
Mas nem tudo é mau como disse a Psicóloga que fez o estudo em Leiria, o facto de em Leiria se ter constatado que o buylling não é tão grave como por exemplo na àrea metropolitana de Lisboa, faz com que se possa prevenir algumas coisas e é esse o caminho, Prevenção e formação aos professores e auxiliares de educação, para aprenderem a ler os sinais e, já agora aos Pais.
Outro aspecto positivo e que me agradou sobremaneira, ontem ao jantar estava a relatar o que tinha ouvido na palestra e fui surpreendido pelo meu filho que me disse que na aula de formação civica, a professora organizou grupos de 3 alunos e deu-lhes um trabalho, debaterem entre eles o que já viram e sentiram nestes meses de aulas relativamente, a roubos e maltratos por parte dos colegas.O trabalho ainda não acabou porque como tiveram dificuldade em perceber o trabalho a professora passou algum tempo a explicar-lhes o porquê do trabalho e explicar-lhes que não tinham de ter medo em escrever.Depois das explicações começaram a conversar sobre o assunto e não escreveram nada, vou esperar para que o meu filho me diga as conclusões do trabalho.Como é evidente incentivámo-lo a escrever o que sabia e a contar-nos também.
Até agora o que ele presenciou foi a tentativa de dois miúdos mais velhos de tirarem dinheiro a um da turma dele sem sucesso,rapaz não tinha mesmo e uma outra situação de um miúdo que da turma a quem desapareceu um telemóvel, mas não sabem se não foi o miúdo que o perdeu.
Em relação ao telemóvel, foi curiosa as dicas que foram dadas, falou-se de um caso de uma escola particular em que os alunos entram na escola e deixam os telemoveis, só podendo ter acesso a ele no fim das aulas, mas referiu também o caso de uma escola europeia que está a utilizar os telemoveis como mais uma ferramenta de ensino.
Em suma, um assunto que deve merecer a maior das atenções aos intervenientes na comunidade escolar.
Po
Vilaforte
Já tinho lido sobre o assunto e sobre o autor, no Expresso de sábado passado.
Deixo aqui o que escrevi na Fada: O pior de tudo é que somos nós que criamos estes pequenos monstrinhos, Recebemos os sinais a toda a hora, prevemos até para onde tal educação nos pode levar e mesmo assim olhamos para o lado ou fechamos os olhos.
Todos nós, conhecemos alguém que tem um filho ou filha assim. Uma criança mimada, a quem nunca ninguém disse um não.
Começa-se muito cedo, como diz o autor, 3/4 anos, ou mesmo antes e aos 13/14, mandam em casa e aos 17 batem nos pais e sobretudo na mãe, que foi quem mais o deixou chegar a este estado.
Eu conheço um caso destes. Sempre foi uma criança a quem sp disseram sim a tudo eu estava a prever o futuro, era fácil. Hoje com 14 anos, não sei onde vai parar.
Outra coisa que noto é que os filhos únicos, não são o maior exemplo, há muitos casos de quem tenha mais que um filho e outro ponto é que acontece mais com os filhos rapazes.
Há um ditado que diz "Casa de pais, escola de filhos"... de modo que não sei bem como é que hei-de responder á questão final. Um dos grandes problemas é que a nossa geração quis dar aos mais jovens aquilo que não pôde ter e isso resultou numa inversão completa de valores. Há um exemplo que acho magnífico: uma conhecida minha, da minha geração, há uns bons anos fez psicoterapia para aprender a dizer "não", porque pura e simplesmente não era capaz de o fazer, desde as coisas mais simples às mais importantes da vida, o que lhe trazia problemas graves. Esta situação, segundo ela contava, tinha sido provocada pela educação tradicional do ""o menino não tem querer" e "não se diz que não aos adultos" de que nos fala Javier Urra.
O resultado está à vista. Hoje os jovens, na sua grande maioria, querem podem e mandam em todo o lado - em casa e nas escolas, porque os pais e os professores são permissivos.
Depois temos situações perfeitamente surrealistas na escola. Regra geral, os professores mais estimados não são os que dão mais liberdade, são, pelo contrário, os que conseguem impôr mais regras, porque os jovens precisam de regras para crescerem e gostam delas. O professor liberal, "prafrentex", não é estimado e muito menos respeitado, é gozado pelas costas, quando não o é pela frente.
E no entanto, eu bem gostaria de voltar um pouco atrás no tempo e recuperar algumas das características das aulas de antigamente!!! Porque as de agora não são cansativas apenas do ponto de vista psicológico, na sua maioria são um verdadeiro campo de batalha e deixam-nos estafados do ponto de vista físico. Acreditem que tenho algumas turmas em relação às quais a minha atitude não deve ser muito diferente da dos pegadores de touros. Há alturas, como agora em que o frio aperta, em que dou por mim no meio da aula, sem casaco, com calor e com as mangas arregaçadas... e olhem que a minha escola é um gelo!
Nota: Si, a sua introdução deixou-me completamente sem jeito... Obrigada pelas suas palavras tão simpáticas. Só me resta dizer que a empatia é mútua.
Lamentavelmente a culpa é dos pais.
Como já tive ocasião de dizer aqui, educar cansa.
Dizer não, não é simpático.
Depois sofrem as consequências.
Beijinhos
Vizinhança,
Obrigado a todos pela participação em mais uma discussão sobre a educação dos nossos filhos.
A opinião de cada um, se transportada para uma realidade mais lata, para além deste mui singelo cantinho, poderia ensinar bastante a todos aqueles que, neste momento, contribuem para que a sociedade seja feita, maioritariamente, de indivíduos para quem valores, princípios, respeito e educação cívica, nada dizem.
Mais ainda, sinto-me grata por, no meio de tantos destes exemplos, ter encontrado, neste mundo surreal que é a blogosfera, comentadores que contrariam a tendência geral que acima referi.
Beijinhos para todos.
Enviar um comentário