quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

BOM ANO NOVO

ESTÁ TUDO PREPARADO??
ENTÃO, VISTAM-SE A RIGOR PARA A FESTA DO BLOGOBAIRRO
E TENHAM UM BOM ANO NOVO!!



terça-feira, 30 de dezembro de 2008

liberdade


O vapor saía-lhe em bafaradas grossas e condensadas, expelidas por narinas bem abertas, que consumiam vários litros de oxigénio de uma só vez. A um ritmo cadenciado, calcava o chão, amortecendo o peso, suspenso na velocidade, e nos pensamentos. Só o ritmo contava, quando corria, de madrugada ou ao pôr do sol, nos caminhos do parque da cidade, nos caminhos da própria alma, que libertava a cada passada. Como sempre, falava para si próprio. Diálogos intensos, em que discutia, argumentava, ponderava e reflectia. E corria contra si próprio. Contra a amargura, contra a injustiça, contra a revolta, contra tudo o que lhe torcia a mente e, naquele momento, deixava de ser. Era só ele e os ventos, a competir, lado a lado, ou um contra os outros, conforme a direcção. O Norte, gelado, tentava contrariá-lo, mas já lhe conhecia o mau feitio. O Sul, empurrava-o, dava-lhe uma ajuda nas subidas e ele agradecia. O Leste aquecia-o, fazendo-o transpirar, e o Oeste refrescava-o, com algumas gotas de maresia. Todos, gostavam de lhe fazer ver a força com que sopravam ou a gentileza com que buliam pequenas folhas e levantavam poeiras. E ele gostava da sua companhia, da sua leveza e dos seus caprichos, quando o envolviam ou o fustigavam, num medir de vontades que lhe dava alento ou lhe cortava a respiração. Os metros, saíam disparados dos seus pés, atirados como uma seta que ia cair longe. Galgava-os com sofreguidão, para logo os despojar, amontoando-os até terem o tamanho de quilómetros, mas nunca ficava satisfeito com os que conseguia conquistar, tal era o riso desafiador que lhe exibiam na perseguição.
Corria, corria, corria até o corpo lhe pedir para parar, até o coração bombear súplicas de descanso e os pulmões arfarem exaustos em bafaradas grossas de vapor condensado. Só aí parava. A verdadeira liberdade era um vício e uma tentação difícil de controlar. Regressar à rotina, um suplício, que só aguentava na expectativa de se voltar a sentir liberto outra vez.


segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Romeu e Julieta


Romeu e Julieta viviam nuns anexos T1, junto à estação do comboio de Modivas. Ao fim de 6 anos de namoro, e outros tantos de altercações com os pais de cada um, deixaram tudo para trás e, com a conivência de uma tia de ambos, que lhes ficou de avalista, alugaram a primeira casa da sua vida a dois. Primeira, porque não iam ficar ali. Era só para o começo de vida, enquanto ele não era promovido na estação de correios e ela passava de caixa do supermercado para a contabilidade, como o Sr. Rocha lhe tinha prometido. Depois, iriam para um T2, ou um T3 de verdade, ou até uma vivenda, se lhes saísse o Totobola, diziam eles a brincar. Filhos, seria para pensar daí a uns tempos, e só se tivessem a certeza de que não iria haver problema com os meninos, pelo facto de os pais serem primos direitos. Mas queriam muito tê-los, ó se queriam, que haviam de ser lindos, morenos como o pai, de olhos azuis como a mãe, saudáveis e risonhos, bem educadinhos e estudiosos. Seria por eles e por aquele amor todo que os unia, que fariam todos os sacrifícios possíveis e imaginários, que chegariam tarde e más horas do trabalho, depois de umas boas horas extra, pagas a duplicar, que lavariam e passariam, que cozinhariam e arrumariam, dia após dia, noite após noite, mesmo que de noite não repousassem por causa de algum incómodo com as crianças.
Com este sonho sempre em mente, aforraram tudo o que podiam, vivendo com simplicidade e frugalidade, mesmo depois de ele já ser chefe de estação e ela, que não gostou nada que o Sr. Rocha tivesse quebrado a promessa e pusesse lá na contabilidade do supermercado, uma ranhosa, afilhada dele, fosse, agora, dona e senhora da sua própria loja, bem mais fornecida e luminosa do que a do seu antigo patrão.
Os filhos foram chegando, primeiro um rapaz, para fazer a vontade ao pai, depois uma menina, para fazer a vontade à mãe e finalmente outra menina, que fez a vontade aos dois, pois agora tanto lhes fazia, ser menino ou menina, desde que fosse perfeitinho. Todos morenos e de olhos azuis. Todos educadíssimos e excelentes alunos, ali mesmo, nas escolas da freguesia. O orgulho e a felicidade dos pais, que só mudaram de casa para um T3, comprado a pronto, quando nasceu a segunda menina, porque agora ele já era um rapazola e não ficava bem dormir com as manas.
Chegados à hora da reforma, tinham um bom pé de meia no banco. Já formados, em universidades públicas e ali mesmo ao pé de casa, os filhos estavam já prontos a seguir os seus rumos, a namorar e prestes a casar, com gente de bem, de boas famílias, também educados com sacrifícios pelos seus próprios pais. As bodas foram todas simples, como os filhos quiseram e pediram, sem estourar dinheiro em modas ou excessos estapafúrdios e todos preferiram passar os respectivos dias de lua de mel nas praias da Póvoa, onde brincavam desde miúdos.
Agora, já velhinhos, disputados pelos filhos, que os obrigam a passar o fim de semana em casa de cada um e os levam sempre de férias, mimados pelos netos, que os visitam todos os dias, cuidados pela Dna. Rosa, que também todos os dias lhes areja a casa e faz as camas e a comida, Romeu e Julieta decidiram vender o T3 e alugar um T0. São felizes e não sentem necessidade de mais nada.
É que às vezes só é mesmo preciso um grande amor e uma cabana.

domingo, 28 de dezembro de 2008

ponto de (Si)tuação # 11



Querido Diário,



Este vai ser o meu último registo nas tuas páginas antes de entrar o novo ano.
2008 vai acabar, não sem antes deixar aqui a memória deste Natal, com algumas imagens, do género 'para mais tarde recordar'. Um Natal bom, passado em família, alegre e sereno, que reuniu pais, filhos, irmãos, tios, sobrinhos e netos, numa noite em que a magia resolveu aparecer, pelo simples facto de estarmos todos juntos.
Às 19.30h, em ponto, chegámos a casa do meu irmão. A lareira acesa e o calor da sala, aqueceram-nos a alma de imediato, fazendo-nos esquecer o frio que fazia lá fora. Se alguma dúvida houvesse, do que é que nos traria ali, bastaria olhar para as velas do Advento, todas apagadas, em contagem descrescente para a chegada próxima do Menino.
Os aperitivos e a boa conversa tomaram conta do tempo até à altura do jantar. À mesa, o bacalhau cozido esperava pela reunião dos convivas desfazendo-se em lascas grossas, num casamento perfeito com o azeite do lavrador e as pencas do Sr. Adelino. (Porque será que nesta noite o bacalhau, a batata e as couves têm um sabor tão diferente e especial??)
No final, as sobremesas, doces feitos em casa, com esmero, os sonhos, o arroz-doce, a aletria, as rabanadas da minha mãe, postas, como sempre, em roda, no velho prato da louça da Avó 'Quina, que lhes dá um sabor tão especial, o meu leite creme, feito com os ovos caseiros que a D. Mena me arranjou, que o deixaram cor de amarelo-sol, ainda morno, tão tostadinho, tão acabadinho de queimar, que ainda nem se tinha desfeito em caramelo líquido.
As horas passaram tão rápido que ninguém deu pela chegada da meia-noite.
E foi aí que a magia aconteceu.
A árvore de Natal desprendeu as luzes, que se transformaram em pirilampos. Levantaram vôo e viajaram pela sala toda, em busca de sítio para pousar, trouxeram a sua claridade intermitente à meia luz do ambiente, e espalharam os seus pós de perlimpimpim sobre todos, tornando bem visíveis os laços que nos unem, a família que somos, a falta que fazemos uns aos outros, aquilo que uns aprendem com os outros, para voltar a ensinar, mais tarde. E ao ficarem tão iluminados, garantem que aquilo que sempre nos uniu, foi o respeito, o carinho e o amor, que trocamos todos os dias e não apenas uma vez por ano.
O pai, o filho, a filha e o neto, que também são o avô, os irmãos, a tia e o filho, ou ainda o avô, os tios e o sobrinho, nesta complexa teia de títulos familiares, terminaram a noite com aquilo que passou 3 gerações. Cada um pegou na sua e a música apareceu na Noite de Natal.


(fotos minhas)
Até Domingo, Querido Diário!
Até para o Ano!!
Beijinhos,
Si

sábado, 27 de dezembro de 2008

Prémio Dardos


Completam-se hoje, dois meses e meio sobre o nascimento deste blog. Arranquei a 12 de Outubro e, desde aí, ainda não falhei um único dia na publicação de posts. Não que ninguém mo tivesse exigido, não que ninguém me impusesse este compromisso. Quis assim, porque é assim que gosto de ver os outros blogs, aqueles que me convenceram a partilhar um pátio, um jardim, um bairro, que todos os dias apresenta um ar diferente, oferecendo a quem passeia, uma enorme quantidade de textos, pensamentos, histórias, imagens ou frases soltas que revelam as várias facetas da realidade e da imaginação de cada um. Um bairro rico, portanto.

79 posts depois, fui surpreendida com a atribuição do Prémio Dardos, pela vizinha De Dentro pra Fora.

Eis o que o prémio considera e as regras que lhe vêm anexas:

“Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.
Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.”

Regras:
1) Exibir a imagem do selo;
2) Linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação;
3) Escolher 15 outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos

Depois de cumpridas as primeiras regras, a última será a parte mais fácil, porque, embora haja repetição de alguns dos premiados, só reforça a qualidade dos seus posts e dos seus comentários.
Sendo assim, os nomeados são:

Parabéns a todos, que bem merecem!

(é só copiar e colar nos vossos blogs)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

desafios da Si - recibos verdes

Num momento de menor inspiração, em que o trabalho aperta e o blog não espera, lançam-se desafios destes, para podermos continuar a, diariamente, usufruir deste espaço, mas, sobretudo, da companhia de quem lê.
O simpático vizinho Tretoso, sempre cheio das suas Tretas da Vida, foi alvo de um tiro disparado meio à toa e que lhe acertou, também em cheio, qual melro incauto em terreno cultivado.
Desafiei-o a fazer posts em continuação, sobre 3 temas diferentes, sugeridos por mim, que eu faria o mesmo, em outros 3 por ele sugeridos, sendo que a continuação de cada post seria feita pelo outro e as publicações partilhadas.
O primeiro tema a sair foi 'Recibos Verdes'. Como combinado, publico o post escrito por ele, cuja continuação, feita por mim, sairá, algures na próxima semana, no blog tretas-da-vida.blogs.sapo.pt








§§§

- Pois é, minha senhora, de acordo com os exames, a sua situação ainda pode ser intervencionada.

- Ai!... Senhor Doutor, mas é um desespero…

- Tenha calma!... O pânico não ajuda em nada. Tem de ter pensamentos positivos, porque vão ajudar a cura.

- Senhor Doutor, mas se a cirurgia não resultar?..

- Penso que não tem de se preocupar. Tudo ainda está no início e julgo que vamos a tempo de parar a sua evolução.

- Ai, meu Deus!...

- Vá, vamos lá a animar.

- Quando será a operação?

- Bom, se for num Hospital Público, a lista de espera deve estar em um ano, o que complica as coisas. Se for num Hospital Privado, e eu opero no Hospital dos Aflitos… terei de confirmar, na agenda, mas penso que dentro de uma semana poderemos estar a operar. Também dará tempo para os exames de rotina.

- Pois…- Mas num Hospital privado, certamente é muito caro…

- Olhe que não. Pelas minhas contas… ora… a sala de operações, o anestesista, o pessoal de enfermagem, e a minha intervenção… humm… não será mais de 6.000 euros.

- Caramba!...

- Bom, claro que não estou a contar com o internamento. A diária é 80 euros. Uma semana de internamento será suficiente.

- É muito dinheiro…

- Mas o internamento pode apresentá-lo para ser reembolsada pelo serviço Nacional de Saúde. Quer dizer… uma parte…

- O internamento?!... Então e a operação?...

- Bom, naturalmente, eu fiz as contas à operação sem recibo!

- Não percebo senhor Doutor…

- Se a senhora não quiser que lhe passe recibo verde, a cirurgia fica pelo preço que lhe disse…

- E com recibo?...

- Bom, com recibo são… 9.660 euros! A senhora terá de pagar logo e não sabe quando será reembolsada….

- Ai senhor doutor… mas como dá uma diferença tão grande?...

- Minha senhora, claro que se a senhora quiser que lhe passe recibo, tenho de pagar IRS, Segurança Social e ainda o Contabilista para regularizar as minhas contas!...

- Eu estou aflita, senhor Doutor!...



(continua, em post a anunciar, no blog tretas-da-vida.blogs.sapo.pt)










quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

dia de Natal


Hoje é dia de era bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão



quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL

PARA TODOS OS VIZINHOS DO BLOGOBAIRRO


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

reis magos


o nascimento do Menino

é motivo de celebração

e a rebate toca o sino

dlim, dlim, dlim, dlão

guiados pela estrela

mais brilhante no céu

vêm magos pela viela

a coberto de um véu

nas mãos trazem ouro

que não vão oferecer

por ser deles o tesouro

tão custoso de obter

incenso também vem

quanto se sente no ar

vem dos que não têem

nem como bem cheirar

a mirra foi esquecida

não por esquecimento

apenas por nesta vida

ela não ter cabimento

percorrem o deserto

das ruas iluminadas

longe do que está perto

em montras enfeitadas

usam uns rotos mantos

e coroas de papelão

só comem em dias santos

uma sopa e um pão

o nascimento do Menino

é motivo de celebração

e a rebate toca o sino

dlim, dlim, dlim , dlão



segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

sagrada família


laço de família, é um laço
que pelo sangue vermelho,
por côr da pele e o traço,
une vidas em espelho,
ao ritmo do seu compasso.
são elos invisíveis,
que temos que cuidar,
ternos e sensíveis,
que nos dizem como amar.
por ser esta a definição,
que por defeito se usa dar,
será também a razão
que me leva a extrapolar;
família é toda a gente,
que não se sabendo explicar
o porquê do que se sente,
se acaba por considerar
elemento bem presente,
na nossa vida, na amizade
e em tudo o que represente
o amor e a boa vontade.
mesmo os que extravasam
nesta lata explicação,
são sempre os que ficam
a ganhar no coração.
pelo contrário, os que negam
o mínimo que de si exigem,
são seres tristes e renegam
amores que não se fingem.
destes, conta a história,
houve bem quem quisesse
eliminar da memória,
aquele que em alta prece,
e derrotando uma vitória,
mesmo já cruxificado,
mesmo já torturado,
não aceitou não ser amado
por tanto amor, tão resignado.
Em suplício, esse Filho gritou-lhes
antes da sua última viagem,
Meu Pai, por favor, perdoa-lhes
eles não sabem o que fazem!

Inscrito no Fábrica de Letras

domingo, 21 de dezembro de 2008

ponto de (Si)tuação # 10



Querido Diário,


Estamos no último Domingo antes do Natal, o último, antes daquela mágica noite que altera o espírito de toda a gente, para bem ou para mal .
Dizem que o Natal é das crianças, e que a ilusão de uma figura mítica, de barbas brancas e pijama vermelho, carregado de um saco enorme de prendas, escorregado pelas chaminés, lhes alimenta a fantasia e o sonho, a crença de que, pelo menos por uma noite, todas serão iguais e exactamente com as mesmas oportunidades de serem contemplados com um presente, ou melhor dizendo, com 'o' presente desejado.
É quando me vêm à memória os Natais da minha infância, passados na casa dos avós paternos, com os pais, irmãos, tios e os primos, todos bastante mais velhos do que eu, a caçula da família. Reunidos na casa que dantes era sua, o pai e os tios encarregavam-se de esconder os presentes na arca de madeira de carvalho que a avó mantinha no seu quarto, numa manobra de que todos se apercebiam, porque nenhum de nós, incluindo eu, acreditava no Pai Natal. Sabíamos que eram os nossos pais que nos compravam os presentes, mas no fundo, no fundo, à passagem pela arca da avó 'Quina, os embrulhos pareciam multiplicar-se e a verdade é que de lá saíam sempre mais do que os que entravam.
O ritual da consoada era cumprido religiosamente: sentados à volta da mesa rectangular, já acrescentada com as tábuas necessárias para sentar mais de quinze pessoas, comia-se o bacalhau cozido com a penca, regado com o delicioso azeite da região, e salpicado com dentes de alho picado muito fino; alho, muito alho, uma quantidade respeitosa de alho que o avô ingeria, ficando com um hálito insuportável, mas cumprindo, também para si, o ritual de todos os dias comer alho crú para combater o reumatismo anquilosante que lhe deformava ambas as mãos.
Preparadas com requinte estavam também as sobremesas, com sonhos batidos à mão durante 45 minutos, dourados e cheios na fritura, arroz doce, com xadrez perfeito de canela em pó, rabanadas de leite, dispostas sempre em camadas de roda, na cama oferecida pelo mesmo velho prato de porcelana branca, com motivos verdes já esbatidos pelo tempo, o creme-queimado cuja crosta de açúcar era quase disputada ao estalo pelos mais novos e o bolo-rei, que ainda tinha fava, brinde e tudo, a transbordar de frutas gordas que disputavam o seu lugar espremendo-se umas contra as outras, e agarrando-se desesperadamente à massa na fina película de geleia brilhante.
Comia-se, os adultos bebiam o vinho escolhido pelo avô, digeriam com a aguardente de ginja com elas feita pela avó, demoravam-se a conversar, mas mesmo assim o tempo não passava e a meia-noite nunca mais chegava, numa ansiedade crescente que se reflectia nas unhas mordidas com gana.
Eternamente depois, lá chegava a hora. Apagavam-se as luzes todas, e a sala ganhava sombras vivas, apenas com a luz da lareira. O relógio de pêndulo começava a gemer as badaladas, que eu contava pelos dedos, com as mãos atrás das costas, à espera da última. Batiam-se palmas nervosas, entusiásticas, e ao reacender as luzes, espantava-me sempre com a forma mágica como os presentes viajavam da arca de carvalho para debaixo do pinheiro, sem ruído, sem vestígio, naquele intervalo dos ding-dongs do relógio.
Nesse último Natal antes da avó ir para o outro lado da vida, recebi uma máquina de escrever de brincar, que escrevia a sério, e com a qual preenchi folhas e folhas de histórias, de ditados e de cópias.
Depois deste, não houve mais Natal naquela casa. Nem podia. A magia dos presentes pertencia à avó 'Quina, a baixinha e ágil avó 'Quina, que se esfumava no meio da escuridão da sala para dar ordem aos embrulhos para saírem da arca e irem para debaixo do pinheiro.

Até Domingo, Querido Diário!

Beijinhos,
Si

sábado, 20 de dezembro de 2008

maravilhas do meu Porto


1923

A "Illustração Portugueza" escrevia, em crónica de André de Moura: "Os cafés em Portugal têm sido até agora exclusivamente alfobre de revolucionários, ponto de reunião transaccional de comerciantes milicianos ou apagado espairecimento do caturrismo da velhice. Acaba de dar-se entre nós o exemplo do que deva ser um café. Trata-se do novo estabelecimento desta classe, que vem de inaugurar-se num dos pontos centrais do Porto, à entrada da Rua de Santa Catarina. É um dos mais nobremente sumptuosos que conhecemos, pelo que se justifica bem o seu título: Majestic (...) As senhoras da melhor sociedade portuense frequentam-no e aqui está o exemplo aberto para uma nova e grata função do café no nosso país.

Este é o texto que se pode ler no toalhete de papel, pousado sobre as mesas do café Majestic. A sua história é muito mais longa, anterior a 1923, e está pormenorizadamente contada no site próprio - http://www.cafemajestic.com/ - para quem quiser ler.

Aqui, apenas importa destacar que o Majestic é um local fantástico, que nos transporta imediatamente para um outro tempo, uma outra dimensão, e que nos faz ter orgulho em ser portuense.

As toalhas de linho, com guardanapos do mesmo tecido, têm cheiro a fresco, um cheiro de lavado com sabão azul e seco ao ar em cordas ao sol. A porcelana personalizada, é cuidadosamente colocada com o monograma impresso virado para o cliente, num alinhamento perfeito com os talheres banhados a prata baça e os copos finos.


A mesa escolhida, mesmo ao lado do piano que aos sábados à noite acompanha os jantares mais tardios, tem de um lado cadeiras e do outro o sofá corrido, de couro, que faz de rodapé à parede espelhada e rematada por entalhes de madeira torneados, de tons dourados, em que espreitam faces rechonchudas de querubins.

Estátuas no Jardim de Inverno, testemunham a passagem do tempo num local que não envelhece, até porque a maioria dos empregados tem menos de 30 anos, é extremamente delicada, educada e conhecedora das elementares regras de etiqueta que se adequam ao ambiente.

A lista é diversificada, com petiscos para todos os gostos, dos mais subtis, como os filetes de salmão em cama de legumes, aos mais típicos, como a indispensável francesinha, ou os mais populares, como as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão vermelho. Embora um pouco elevados, os preços compensam o arrojo de uma refeição no mais antigo dos cafés do Porto, que não defrauda os paladares com uma cozinha de boa qualidade.

Deixo-vos esta sugestão para o final de um dia passado com as últimas compras de Natal, naquela mágica Rua de Sta. Catarina.

BOM FIM DE SEMANA!!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

nasceu um anjo

Sentiu-se liberto, desapegado, leve e fluído, sustentado apenas por um plasma transparente, ondulante e sem forma definida.
Era pureza alva, sem dor nem mancha, felicidade suprema alcançada no auge da juventude, a deixar para trás um corpo físico, carne apenas, perante a eternidade do espírito.
Deixou-se ir, percorrendo sem esforço, sem tempo, sem limites, o espaço e o tempo, viu outros como ele e outros tão diferentes dele, ainda agarrados a coisas, a arrastar o peso das suas escolhas.
Espreitou para dentro de outras almas, reconhecendo as mais queridas, que sofriam a desilusão de não lhe conseguir tocar, choravam a perda de um filho, de um irmão, de um amigo, agarradas ao corpo que deixara. Se lhes pudesse falar, dir-lhes-ia para não chorarem, se o pudessem ouvir, aliviaria a sua dor, mostrando a sua paz e serenidade, se lhes pudesse tocar, beijaria a mãe, abraçaria o pai, faria uma carícia na face da irmã, despedindo-se, a sorrir.
A vela do seu barco já estava içada. A brisa soprava na direcção certa. O mar oferecia-lhe todo o horizonte para navegar, para sempre, para todo o sempre. Sem nenhuma dúvida que o retesse, embarcou na última viagem e de peito aberto, soltou as asas de anjo e abraçou o vento.
Adeus, Carlitos. Até um dia.


Carlitos tinha 15 anos quando partiu, vítima de uma leucemia fulminante. Entre os primeiros sintomas e a sua morte, passaram apenas 3 dias. A vela era o seu desporto de eleição.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

uma longa história de encantar (que afinal tinha final conclusivo)

Quase toda a gente quis saber a continuação da história de Ratinho e Tinita.
Como todas as histórias de encantar, tinha quase a certeza de que teria tido um final feliz, com eles a viverem juntos para sempre. Mas não há como confirmar, que isto de paixões assolapadas podem sempre virar no último momento. Vai daí, perguntei ao meu amigo passarinho, que sempre me deixou a par das novidades. Foi quando eles me fizeram a fineza de enviar estas fotos, para que todo o bairro ficasse a conhecer a sua vida, no mundo da fantasia.




Depois de dar o 'sim', Tinita tratou logo de arranjar vestido para o casamento






O pai Ratão, ficou tão feliz, que até cantou ópera na boda





Foram viver para uma casa linda, que o Pai Ratão lhes comprou e a mãe ajudou a decorar





Em breve, veriam a sua prole aumentada, com os gémeos Ratinho, Ratão e Tinita Júnior






Neste primeiro Natal, que estão a viver, já se divertiram imenso, Tinita e os gémeos, porque o lago congelou e puderam patinar...







...e porque, finalmente, Ratinho, vive em pleno a sua paixão por Tinita, que vai amar eternamente!



Já viram o postal de Natal que ele nos mandou???







FELIZ NATAL, AO BLOGOBAIRRO!!


Ass: Ratinho Sénior

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

uma longa história de encantar



Olhava para ela e sonhava, e ela olhava para ele e sonhava também.
Porque viviam em tocas separadas, os seus olhares só se cruzavam quando saíam com os irmãos para se espreguiçar ao sol de inverno, sob a vigilante e sagaz atenção das respectivas mães, que encorrilhando os narizes, cheiravam o ar, em busca de potenciais perigos.
Ele, amava apreciar-lhe os quadris, saracoteados na sua frente, em movimentos rápidos e decididos. Já ela, ficava era completamente fascinada com a agilidade que ele demonstrava nos difíceis exercícios de recolher sementes do cimo das árvores, directamente dos frutos, e que transportava nas enormes bochechas até casa. Coisas de ratos do campo, intimidades até à data nunca reveladas e que eu só soube, porque foi um passarinho que me contou.
Ambos pertenciam a famílias numerosas, mas a dela era dominante, lá no bairro deles, e ela, a filha única de 9 irmãos, logo, a fêmea mais cobiçada por todos, machos jovens e viris, mantidos a uma distância respeitosa imposta pelo pai Ratão, que do alto dos seus 10 centímetros e 30 gramas de peso, olhava de lado para os pretendentes, com o único olho que tinha porque o outro tinha sido perdido na luta que travara com um rival, na conquista da companheira. Uma espécie de condecoração de guerra, que ostentava com o orgulho de ter conseguido provar que era o mais forte.
Ora, sendo o mais forte, estava mais do que visto que só um forte exemplar de Muridae Holochillus se poderia tornar aspirante a genro, tanto mais que, para além da competição das outras famílias, o eleito teria que vencer ainda a protecção dos irmãos, todos os oito, muito ciosos do seu estatuto e posição social. Há quem diga que eram até um pouco rufias, mas eu não ligo a boatos e limito-me a relatar os acontecimentos.
Nestas condições não se incluía, concerteza, o apaixonado Ratinho, filho último da ninhada, o mais pequenino e fraquinho, por quase já não ter espaço para mamar quando nasceu. Cresceu, um bocado aos repelões e lá se foi fazendo à vida, na tentativa de sobreviver. Foi assim que se especializou em recolher sementes do alto das árvores, onde o seu pequeno corpo não pesava nas folhas o suficiente para chegar ao fruto antes de as quebrar.
Por isso, quando ouviu o vozeirão do Ratão, a anunciar que iria dar a sua única filha em casamento, àquele rato do campo que se demonstrasse mais valoroso, nem pensou em tentar a sua sorte, pondo o coração ao lado na paixão que sentia.
E a procissão começou, lá para os lados da casa da sua amada. Eram uns, os comedores, inchados, todos engalanados com tufos de pêlo, a mostrar a sua riqueza em botões, grãos de café, de arroz e milho, roubados aos humanos, eram outros, os lutadores, de dentuças arreganhadas e mangas arregaçadas a mostrar os músculos, outros ainda, os de biblioteca, que mostravam a sua esperteza e sagacidade, exibindo os bocados de lombadas de livros e páginas rasgadas, num sem fim de demonstrações de qualidades.
A tudo Ratinho assistia, desanimado por não poder oferecer nada de parecido e conquistar a mão, os pés e os quadris (ai, os quadris...!!!) daquela por quem batia o seu coração minúsculo. E retirou-se para um local afastado, onde só a via a ela e mais ninguém.
Enquanto uma lágrima lhe embaciou o olhar, Tinita, como ele, carinhosamente lhe chamava, desapareceu à sua frente. Incrédulo, afiou as orelhas e cheirou o ar, certificando-se da sua imediata suspeita. Havia milhafre por ali e levara-lhe a noiva que nunca chegara a ser! No meio de tanta festa, ninguém, nem o pai Ratão, tinha dado pela rapina presença, e era preciso agir, antes que fosse tarde!
Aflito, tentou avisar os outros, mas ninguém lhe deu atenção. Saltou, pulou, sem sucesso, guinchou até ficar rouco, mas ninguém o ouviu porque havia palmas para o líder, em pleno discurso. Desesperado, correu, e viu o milhafre no ar, com Tinita presa nas patas, a voar em direcção ao ninho. Decidiu-se a tentar o impossível. Iria subir ao alto da árvore e resgatar a amada. Se assim o pensou, melhor o fez e, num ápice, chegou ao topo, onde repousava o ninho, e o milhafre e a sua prole se preparavam para fazer a refeição. Sorrateiro, como só os ratos do campo sabem ser, enfiou-se pelo meio das palhas do ninho e ficou entre as pernas da ave. Escolheu o melhor ângulo e pregou-lhe uma valente dentada no abdómen, com os dentes mais fortes que tinha, fazendo-a gritar de dor. Sem perder tempo com explicações e aproveitando a distracção do raptor, empurrou desajeitadamente Tinita dali para fora, que caiu aos rebolões e só parou num galho mais saído de uma árvore vizinha.
Cá em baixo, o pânico era geral. Tinham dado pela falta da menina, procurado por ela e ouvido os seus gritos, enquanto caía do ninho. Agora, tinham a respiração suspensa, sem saber se ela estava viva ou morta, lá no cimo do ramo. Ratinho apressou-se em direcção a ela, deixando a ave confusa, sem perceber o que tinha sucedido. Depressa deduziu que não conseguiria, sózinho, salvar a razão da sua vida, mais depressa ainda, achou a solução. Gritou ao irmão a seguir a si que subisse pela árvore onde estava, e os dois, esticados em cordão, numa arriscada manobra acrobática, chegaram ao galho onde Tinita estava caída e ainda abalada. O silêncio imperava, quando tirei esta foto, e toda a gente ouviu, precisamente no minuto em que Ratinho, estendendo uma flor à sua amada, lhe perguntou, no calor do momento: 'Queres casar comigo??'

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

caída do céu

sou gota de orvalho
e este é meu fado,
cair desamparada
num fio delicado.
em fio delicado
cair sobre a folha,
não em chuva agreste,
nem que tolos molha,
mas apenas em gota
que do céu cai,
e o vento empurra
sabendo onde vai.
não molho a folha
para me poupar,
meu destino é outro
que vou encontrar.
em perfeita gota,
continuo a descer,
vou até ao caule
em lento escorrer,
para a boca que espera
a altura de me ter,
no seio da flor
a quem dou de beber



segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

às (Si)gundas-feiras...# 2

Aproximam-se as férias de Natal.

Professores e alunos podem descansar um pouco das emoções deste período.
Nada como uma boa gargalhada, para dar início a uma pausa nas hostilidades e reaver o espírito desta época.

Para os que trabalham noutras áreas, o motivo poderá ser apenas porque....

bem, porque hoje é (Si)gunda-Feira!!



Mr. Bean - The School Principal



Tic, tac, tic, tac,

Trrrrr, push, trec, trrrrrec

'Informamos os estimados trabalhadores, que 5 minutos do vosso tempo de trabalho serão agora descontados no salário'

(rsrsrsrrsrsrsrs)


domingo, 14 de dezembro de 2008

ponto de (Si)tuação # 9


Querido Diário,

Esta semana foi fértil em recordações, encontros e desencontros, memórias e textos saídos de imaginações em ebulição.

Já sabes que tenho uma escrita reactiva, e há textos que leio e a imaginação me transborda pelo teclado fora. Sempre fui assim, desde pequena, e ainda há dias me fizeram lembrar a primeira vez que o fiz, tinha eu cerca de 9 ou 10 anos.

Porque perdi esse registo, tentarei reproduzi-lo aqui, por outras palavras, é certo, e com um peso diferente em cada uma, mas, certamente, com a mesmíssima intenção. A de contar uma história.

Foi pouco tempo depois de ter lido um dos livros mais belos da minha vida. A colectânea de 'Contos' do Eça de Queirós, numa publicação das Edições Asa e que ainda consta nas estantes de casa dos meus pais. Lembro-me de ter ficado completamente esmagada pela força das palavras daquele Senhor, tão pequena que eu era, mas já tão ávida de leituras, que lia absolutamente tudo o que me aparecia à frente. Na escola, pediram-me uma redacção, sobre qualquer coisa que já não me recordo; resolvi fazê-la com um toque de homenagem ao escritor que tanto me impressionara e não fora a Professora Ermelinda já me conhecer de 'gingeira', acho que ainda hoje ela não teria acreditado na genuinidade daquele texto, tal foi o impacto que criou na turma.

E dizia qualquer coisa como isto:

Eu agora sou um livro. Mas nem sempre fui. Primeiro fui umas páginas soltas, que o meu Pai preencheu com palavras. O meu Pai escreveu-me, mas entretanto esqueceu-me durante anos a fio, dentro de umas gavetas poeirentas, e só ao fim de muito tempo é que voltei a ver a luz do sol, quando alguém pegou em mim e me levou para a rua. Passei por muitas mãos, que me folhearam e acariciaram as minhas páginas e acho que até consegui ver uns sorrisos nas caras de quem me olhou. Deve ter sido por isso, que me levaram para um sítio com muitas máquinas, onde me cortaram, colaram e puseram uma capa, com letras douradas e tudo, e me fizeram imensos irmãos, iguaizinhos a mim. Depois, fui para uma loja grande, com prateleiras enormes, onde havia muitos primos meus, de todos os tamanhos e feitios, até ao dia em que uma senhora idosa e bonita me escolheu para ir com ela. Cheguei lá a casa e ela leu-me logo, do princípio o fim, sem parar, escolheu-me o melhor sítio da estante para me pousar e todos os dias me limpava o pó. Mas veio uma altura, em que a Senhora convidou o neto dela para passar as férias e ele, se calhar com ciúmes da maneira como ela me tratava, sem ela ver, pegou em mim e magoou-me, rasgou-me e calcou-me. A Senhora ficou tão triste! Mas como não podia fazer nada por mim, acabei por ir parar ao lixo, não sem antes a ouvir dizer ao neto que, se o meu Pai fosse vivo, haveria de ficar muito zangado com o que ele fez. Foi assim que fiquei a saber que o meu Pai já tinha morrido. Ele chamava-se Eça de Queirós e nasceu no dia 25 de Novembro de 1901, na Póvoa de Varzim.

Pois, Querido Diário, naquela altura a Professora Ermelinda gostou muito e deu-me um 'Muito Bom' na redacção. Eu de ti, nem espero comentários. Só quero as tuas páginas para não me esquecer do que já fui.

Até Domingo, Querido Diário!

Beijinhos,

Si


sábado, 13 de dezembro de 2008

post fêmea

Queridas Vizinhas,

Sabendo que daqui a poucos dias se abrirão as hostilidades relativamente aos alimentos tradicionalmente abundantes e hiper calóricos que esta época se nos oferece, e para vos ajudar na tarefa quase impossível de manter o ponteiro ou a escala da balança no mesmo local, deixo-vos aqui alguns exercícios importantíssimos, que, precisamente por serem de retórica, pelo menos, são daqueles que, mesmo as que sofrem de preguicite aguda, podem realizar à vontade e sem esforço.

Eles aqui estão:



Todos estes exercícios deverão ser realizados pelo menos 6 vezes ao dia, de preferência à hora das refeições, já que, deste modo, e em vez delas, os resultados apresentados serão sempre 100% melhores.

'Bora lá???


1 e 2 e 3 e 4, vamos todas em conjunto

5 e 6 e 7 e 8, trabalhar para emagrecer

8 e 7 e 6 e 5, sem sequer esforçar muito

4 e 3 e 2 e 1, semear pra depois comer!!


BOM FIM DE SEMANA!!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

a educação dos nossos filhos # 7






A semana passada, iniciei uma reflexão sobre o mundo virtual, o acesso a ele, por parte dos filhos e o comportamento dos pais, na mesma circunstância.

O melhor exemplo para ilustrar o 'lado negro' da internet, é mesmo falar dos riscos que, filhos e pais, realmente, correm, sempre que se ligam à rede. Se, infelizmente para o nosso país, a nossa justiça é muito corrompida, esquecida ou branda, há locais neste planeta, onde o 'Big Brother' existe de facto, para bem ou para mal dos seus habitantes, facto que, desde já, ponho de parte, e nem sequer opino.

Indo directa ao assunto, já muitos serão os vizinhos deste blogobairro, que, saberão do que falo, bastando, para isso que sejam espectadores mais ou menos assíduos do canal Fox Crime da TV Cabo, e de um programa chamado 'Predadores'.

Neste programa, uma equipa enorme de 'iscos', pessoal treinado pelo FBI para se fazer passar por outrém, liga-se à internet, passeando, durante largos períodos de tempo, pelas salas de chat mais frequentadas dos EUA. A maioria, personifica raparigas, entre os 12 e os 15 anos, que se demonstram disponíveis para o acto sexual. De referir, que nenhum(a) deles(as) dá o primeiro passo ou faz qualquer tipo de propostas, apresentando-se sempre e apenas com uma linguagem e forma de escrever o mais próxima possível da realidade dos jovens americanos.
São processos lentos, de semanas ou meses, em que se ganha a confiança de quem está do outro lado do pc, escondido em 'nicks' mais ou menos explícitos das suas intenções. Todas as conversas são gravadas e impressas em papel, para que possam servir de prova em tribunal, e acumulam folhas atrás de folhas, com pormenores detalhados, e até fotos ou filmes de webcams que os mais 'tarados' - desculpem-me mas não encontro outra palavra mais adequada - enviam para o 'isco', em actos de natureza sexual explícita.

Mas não ficam por aqui. Depois de se certificarem das intenções do 'Predador', que a todo o momento tem consciência de estar a falar com uma jovem entre os 12 e os 15 anos, marcam encontro, numa casa previamente preparada para o efeito, e onde, supostamente, a jovem irá estar sózinha. Delicadamente, aquele, normalmente oferece-se para levar todo o tipo de acessórios, desde preservativos a lubrificantes, passando por ursinhos de peluche, máquinas fotográficas e de vídeo.
Refira-se, entretanto, que nessa casa, estará, então, uma actriz de características físicas semelhantes às de uma adolescente, que o convida a entrar e sentar-se, mostrando-se nervosa e querendo saber o que é que é suposto fazerem com ela. Quando começam a revelar as suas intenções, o apresentador do programa entra em cena, a actriz sai e o 'Predador' é confrontado com perguntas incómodas sobre os seus objectivos e, mais ainda, com as resmas de folhas onde estão transcritas todas as suas conversas no chat. A maior parte tenta negar, desculpar-se ou até fugir, mas, mal sai da porta, é logo preso pela polícia que o espera, sendo que a reportagem só acaba depois da fase de interrogatório na esquadra e com a apresentação do preso ao juíz, onde lhe é atribuída uma sentença provisória, normalmente sem direito a fiança.

Curiosamente, a maior parte dos predadores tem entre os 20 e os 55 anos, são casados e até pais de filhos, mas apresentam-se ali com total disponibilidade para ter um episódio de relacionamento sexual com uma criança. E desiludam-se os mais crentes, porque o mais fantástico é que, com este método, não conseguem apanhar um, mas vários predadores na mesma tarde!

Não discuto o sistema penal americano, não discuto a invasão dos 'reality shows' em prol de audiências, não discuto a pobreza moral de algumas intenções que até possam parecer nobres, apenas deixo uma pergunta no ar: será que na maior parte dos adultos reside um potencial predador??

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

post não aconselhável a pessoas sensíveis


Há coisas que são instintivas. Há coisas que não conseguimos racionalizar, mas que nos saem pela boca fora num grito, pela pele em arrepio, pelo corpo num salto.

Detesto os histerismos, irritam-me aqueles berros descontrolados, em decibéis demasiado elevados, desatino com os clichés de mulheres, de cabelos em pé, em cima de uma cadeira, por causa de um rato minúsculo.

Não porque ache uma parvoíce pegada, mas porque também já tive fobias e, com algum esforço, consegui controlar o pavor.

Primeiro eram as cobras.

Depois foram as aranhas.

E os encontros imediatos que tive com estes dois animais, fizeram-me reflectir, qual raio atirado por um Zeus iluminado, que teria de contrariar os impulsos de repulsa.
Em relação às primeiras, a minha curiosidade de criança e a abundância de livros sobre a Natureza, em casa dos meus pais, alimentaram-me a imaginação e levaram-me de encontro a várias espécies de répteis sinuosos que, todas as noites, se divertiam a percorrer, ondulantes, os cobertores da minha cama, numa farra que só o lençol, ferrado nos dentes, me impedia de denunciar em altos berros.

Em relação às segundas, qualquer aranhiço daqueles desgraçadamente finos que mal se vêem, que me surgisse à frente, era logo praticamente desintegrado pelas ondas sonoras que me saíam em tsunami pela boca fora e nem a vassoura impiedosa da mãe em auxílio, descobria, depois, qualquer rasto, que não fosse a eventual teia.

E foi aí, que Zeus resolveu acabar com as minhas patetices.

Convém, aqui, dizer, a título introdutório, que a cave, em casa dos meus pais, era o nosso espaço. As paredes foram forradas, de alto a baixo, com posters grandes, médios, pequenos e diminutos, que a minha mãe, pacientemente recortou e colou, com cola de farinha, feita por ela. Uma aparelhagem, um sofá, uma carpete de pêlo alto e vários bancos coloridos, estilo anos 70, compunham a mobília que fazia as delícias dos nossos amigos quando iam lá a casa. Ali estudávamos, relaxávamos, ouvíamos música, ou organizávamos festas de aniversário, com espaço e direito a bailarico e tudo. Logo, era o nosso mundo, para onde nos escapulíamos, mal chegávamos do liceu.

Daí que, o Dono do condomínio olímpico, acertou em cheio, quando resolveu, invertendo a ordem das fobias, pintar estrategicamente esta divisão, com uma mancha que não mais esquecerei, por cima de uma imagem do um plácido Danúbio: Enorme, negra e peluda, de oito patas, saídas de um corpo gigante, esparramadas numa paisagem azul celeste!! Não sei de onde veio, nem para onde foi, porque fiquei oito dias sem pôr os pés na cave, até ter a certeza de que a dita tinha desaparecido definitivamente. Pela minha saúde que nunca tinha visto uma aranha tão grande, mas a fúria de me ter expulsado do meu espaço ficou-me atravessada e jurei que, a partir daí, quem mandava em mim era eu, no que dizia respeito a aracnídeos.

As cobras, também foram um desígnio do poderoso, aliás, só podem ter sido, tão caricata foi a situação em que as enfrentei, num dia, pouco antes de casar, em que ia meter a chave na porta, para entrar. Este gesto, que todos automatizamos no nosso dia a dia, foi interrompido, quando notei algo de estranho pendurado no puxador exterior. Diversos pensamentos me passaram pela cabeça, à velocidade da luz, deduzindo eu, em milésimos de segundos, que seria qualquer partida que me estariam a pregar, imaginando, desde logo, a minha mãe, do outro lado da porta, com um sorriso malandro estampado na cara.

Enganei-me.
Ao examinar melhor o que estaria ali pendurado, concluí, e juro a pés juntos que isto é verdade, que ali jazia...uma cobra, com cerca de metro e meio! Completamente estarrecida, e sem saber se a desgraçada estaria viva ou morta, já nem utilizei a chave e toquei à campaínha, tentando afastar-me o mais possível.

Depois do susto inicial, a explicação foi óbvia: teria sido uma brincadeira de miudagem atrevida, que teria tocado à porta, momentos antes e fugido, deixando ali pendurada a vítima de alguma das suas aventuras. Mortinha da silva, garantidamente, pudemos, então apreciar a beleza e maciez da sua pele, contrariando a certeza que eu tinha de que as cobras eram repulsivamente viscosas e assegurando que a sua textura era igualzinha, ao vivo, ou numa carteira ou par de sapatos qualquer.

Ultrapassada esta última fobia e para gaúdio daquele, que apenas por uma indigestão, nos pode fazer cair o céu em cima da cabeça, agora sou uma mulher confiante, relativamente a estes dois tipos de animais e já peguei em répteis tão assustadores como uma pitão gigante de cor de chocolate e verde musgo, ou um aligator bébé dos pântanos das Everglades.

A A. seguiu-me os passos, mas empancou a meio: as aranhas e ela e ela e as aranhas, não conjugam.

Talvez porque nunca teve uma cave só para ela.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

dona branca

A D. Branca era uma de quatro irmãs gémeas, mas das falsas, até porque de semelhante nada tinham entre si. Só se fosse o corpo, mas isso até era o menos importante.

Importante, importante, eram os feitios, já que o confronto era total. Nem pareciam irmãs. Uma chamava-lhe fria, a outra deslavada e a terceira que não queria ficar atrás, apelidava-a de troca-tintas. Ora, a D. Branca, que sempre se tinha considerado pacata e neutra, ia engolindo os insultos que as irmãs lhe atiravam, e mesmo o escárnio delas pelo facto de nunca ser convidada para a incrível quantidade de festas a que elas iam, a tirava do sério.

Até um dia.

A propósito destes convites, gerou-se uma discussão, porque, desta vez, a D. Branca tinha sido convidada para um casamento, mas com a cumplicidade da noiva, deixaram de fora o convite para as irmãs, que seriam substituídas por umas parentes. Quando, junto delas, lhes deu a notícia, empalideceram de raiva e extravasaram-se no comportamento.

Como era uma contra três, D. Branca saiu pela porta fora e levou as malas consigo.

Durante meses seguidos, ninguém soube nada dela e foi com total surpresa que a viram regressar, com um brilho muito especial nos olhos, fruto da uma gravidez já adiantada.

Pediram-lhe explicações, indagaram sobre o seu estado de graça, quiseram saber o nome do pai. A nada ela respondeu, pedindo apenas que todas a acompanhassem ao exame de rotina, marcado para essa tarde. Algo contrariadas acederam, mais pela curiosidade do que pelo sentimento fraternal e às 4 horas em ponto, chegaram ao gabinete de imagiologia do Dr. Tela, que logo as atendeu.

Despida da cinta para cima, D. Branca expôs o seu corpo e a barriga já grande. Sentado na cadeira que o punha à altura do écran do equipamento, o médico espalhou-lhe um gel fresco no abdómen e pegou na sonda.

Era uma sonda especial, concebida para gravidezes como a da D. Branca. Contrariando o tradicional formato em 'tê', aquela tinha o aspecto de um prisma invertido, que com toda a suavidade lhe forçou de encontro à pele.

E aí, o milagre aconteceu.

No écran viam-se todos, eram sete os gémeos, todos falsos, distintamente alinhados: o verde, o laranja, o violeta, anil...ah!! olha o vermelho, o amarelo, o azul....iguaizinhos às tias!!

Perfeitos em tudo, e arqueados que já estavam para caber dentro da barriga, o parto ficou marcado para a semana seguinte.

Precisamente no dia em que choveu e fez sol ao mesmo tempo.




(nota de rodapé: este post foi escrito por mim, inspirado num outro que li aqui, feito pela Patti, do blog 'Ares da Minha Graça' - estava agendado há mais de uma semana, mas, como ontem foi um dia especial para ela, aproveito para lhe oferecer, em jeito de prenda de aniversário, a flor e o arco-íris que o ilustram)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

retóricas à moda da Gi, em fim de semana prolongado


Hoje só tenho mesmo tempo para deixar aqui uma dúvida:

SE, somos três cá em casa

SE, há três comandos para a TV

SE, todos os comandos são precisos, por causa da TV Cabo, Home Cinema e afins

SE, o meu 'Mr. Darcy' adormece logo no sofá, mal pega neles todos


ENTÃO, porque é que um comando não há-se ser MEO???



(agradecem-se teorias mais ou menos relativistas, quânticas ou mesmo teológicas)



segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

mãe é mãe e o resto são tretas

Antigamente, celebrava-se nesta data o Dia da Mãe.

Depois, não sei bem porquê, mudou-se para o 1º domingo de Maio.

À cautela, e porque homenagear as mães, seja em que dia fôr, nunca é demais, fica este vídeo, que demonstra na forma animal, aquilo que uma Mãe que é Mãe faz pelos filhos, mesmo que não sejam dela, e, na forma humana, um dos meus poemas preferidos, de António Gedeão.

A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis,
nem aviões, nem misséis.
Corria branda a noite e a vida era serena.

Segundo informação, concreta e exacta,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data,
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai do berço até à puberdade.

28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais
(oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)

Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.

Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.

Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que o meu pai percorria,
tranquilamente no maior sossego, às horas em
que entrava e saía do emprego.

Dessas 9 excelentes raparigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.

A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que o meu pai levou à igeja.
Foi a minha mãezinha
.

Um beijinho para TODAS!!

domingo, 7 de dezembro de 2008

ponto de (Si)tuação # 8

Querido Diário,

Pouco a pouco, surgem mais recordações que gosto de deixar por aqui, um registo, não só das minhas coisas, mas também de pessoas, bocados de um passado que também é meu.
Lembras-te daquele avô de que te falei na semana passada?
Sim, o farmacêutico, o pai da minha mãe.
Sabes que ele além de aliviar as dores físicas também aliviava as dores da alma?
É verdade. O meu avô era um escritor. Pequenino, modesto, só conhecido da família, com muitos textos, todos em verso, escritos em milhares de papeis que a vida se encarregou de fazer desaparecer, porque tudo servia para escrevinhar, fazer rimar e até criticar, com humor mordaz e ironia.
Era assim que enriquecia as reuniões de família, com declamações, ora de fazer rir, ora de fazer chorar, ora até de cantar, quando em uníssono, a avó se juntava a ele no piano que tão bem tocava.
Pois, a avó....
A mulher que ele mais amou na vida, que endeusava na poesia, nas acções e no dia a dia e que tão cedo lhe foi roubada, por um tumor, maligno invejoso da felicidade que viviam os dois.
Uma mulher linda, de olhos azuis água, meiga e que lhe deu 3 filhos, dos quais, só 2 sobreviveram. Um rapaz e uma rapariga.
Já a companheira de toda a vida tinha desaparecido, quando os filhos casaram, e lhe deram os primeiros netos. O rapaz deu-lhe uma rapariga e a rapariga deu-lhe um rapaz, numa contradição de equilíbrio que a Natureza tantas vezes nos oferece.
E foi em honra a eles, que o meu avô escreveu o primeiro e único livro da sua existência, edição de autor, claro, porque a ambição nunca foi a de ser reconhecido por isso, mas sim a de lhes dar uma prenda para que o recordassem depois da morte. Foram feitos 25 exemplares, apenas, editados em 1966, sob o nome de 'Histórias do Passarinho Azul e da Menina Lambareira', na colecção 'Histórias do Avôzinho', ilustradas por uma prima que tinha imenso talento para desenhar.
42 anos passados, não tenho nenhum desses exemplares na minha posse.
Mas há quem tenha.
Surpreendentemente, descobri que este livro faz parte do espólio da Bibiloteca Nacional de Portugal, onde estão registados 2 volumes.




Este Avôzinho era meu, mas, agora, ficou a ser de quem o quiser ler.

Como diria uma vizinha aqui do Bairro, há coisas fantásticas, não há Querido Diário??

Até Domingo!

Beijinhos,
Si