quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

antes que 2010 comece

foto daqui


e junte o seu desejo para o novo ano.

E depois... quem sabe?

Talvez só dependa de si concretizá-lo.

(e se o quiser partilhar, é só deixá-lo na caixinha dos comentários)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

o meu desejo sincero

... a todos os que passam por aqui, vizinhos, amigos virtuais deste blogobairro especial e respectivas famílias.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

eis a magnífica árvore do blogobairro!!

(clicar para aumentar)
Aviso desde já, que este vai ser um post piegas, pela emoção que me provocou prepará-lo.
Mas ficou pronta. Mesmo a tempo.
A árvore de Natal que tomei a meu cargo decorar com os enfeites enviados pelos vizinhos.
O resultado foi este. Espero que gostem.

[Ainda antes de fazer a lista de agradecimento aos participantes deste desafio, explico porque foram colocadas algumas decorações à volta do pinheiro.]

Da esquerda para a direita, temos:

- O azevinho no tecto da entrada, cobre o beijo ternurento de duas crianças: elas são o amor e o futuro próximo;
- O Pai Natal (em dobro, para dar vazão ao número de presentes a carregar para este bairro!), personagem principal do imaginário infantil;
- O Menino Jesus nas palhinhas, personagem principal do ritual cristão;
- Uma cadeira vazia, para sentar todos aqueles que não podem estar presentes à nossa mesa, mas que desejávamos que o estivessem, bem como todos os outros que por bem vierem;
- A casa, o lar, onde acolhemos os que amamos;
- Rudolfo, a elegante rena de nariz vermelho que conduz o trenó mágico desde o Pólo Norte;
- E finalmente, a maravilhosa Estrela que conduziu os Magos ao Menino.

E pronto, reunidos à volta deste pinheiro gigante, que, num acto de generosidade natalícia, a Patti forneceu, (afinal a PresidentA sempre abriu os cordões ao saco azul, valha-nos ao menos isso!!!!) estão todos os que enviaram cada um dos preciosos elementos para esta decoração:

Ares da Minha Graça - Patti
Blue Velvet - Velvet
De Dentro Para Fora - Conceição
Em Prosa e Verso - Dulce
Grande Jóia - GJ
Nocturno - Luísa
No Gabinete - Paulofski
Rosa dos Ventos - Rosa
Rosmaninho da Serra - Lúcia
Sabor de Maboque - Dulce Braga
Simecq Cultura - Fátima
Só Falta Um 31 Na Minha Vida - Gi

E os que não participaram?
Juntem-se a nós e partilhem connosco este momento!

Obrigado a todos e Feliz Natal!!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

não resisti*

Escolher o presente perfeito para cada um, nesta época, não é, de todo, fácil, sendo que, tendo eu elevados conhecimentos sobre os factores atmosféricos, posso, com alguma segurança afirmar, que esta última vaga de frio se deveu a uma enorme baixa pressão, seguida de fortes ventos em altitude, libertados pela colisão de forças opostas: a da vontade de comprar e a aridez das maior parte das carteiras.
Pois bem, apesar disso, este caiu-me no colo, com dedicatória e tudo. Trazia um postalinho de Natal, escrito por uma tal de Julie Andrews, que, em letra trémula, pedia perdão pelos seus pecados terrenos e o remetia a alguém muito especial neste blogobairro.
Só espero que ela não mate o mensageiro...




*título descaradamente roubado daqui

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

viagens subcutâneas # 2

A minha barca flutua serena sobre um rio escarlate, borbulhante de vidas subaquáticas alvas e carmins, que deslizam, afoitas, ao sabor da corrente, por túneis ora escancarados na largueza, ora encolhidos na sua pequenez.
Viajo com um destino definido, nesta rede infiltrada de líquidos vitais, saboreando a adrenalina de remar por uma ravina acima ou deixar-me cair no pique de um precipício, extasiada pela bestialidade das forças da natureza, que me reduz e esmaga o tamanho, tornando-me ínfima, adequadamente mínima para a exploração a que me propus, na busca do mais secreto dos segredos humanos.
Vou atenta, portanto, ao troar ritmado e omnipresente que desejo cada vez mais perto; apuro os ouvidos para medir a distância, deixo que o vento no rosto me indique a direcção certa e aponto a barca para a enorme caverna mitral, sugada, enfim, para o coração das respostas que procuro.
Escondida pela parede ventricular, para não alterar com a minha presença a naturalidade das coisas, estremeço ao ritmo das palpitações, espio o aumento de volume do caudal em que navego, vejo as minhas velas enfunarem-se com o acelerar da respiração, espreito a vibrante sucessão de ondas de endorfinas dilatadoras, assisto, imóvel, ao fenecer dos sentidos, quando chegam, vindos directamente dos lábios, os salpicos mornos de lágrimas cloretadas de emoção.
Documentei-o, registei-o e analisei-o com rigor.
Concluí ser mais um impressionante fenómeno científico, de fortes consequências viscerais, mas cujas causas continuam tão desconcertadamente impenetráveis como antes.
Afinal, ainda não foi nesta expedição que consegui decifrar os intrincadamente codificados mistérios da paixão humana.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

do abandono


- onde foste?
- que interessa, voltei
- vais partir de novo?
- que interessa, estou aqui
- por quanto tempo?
- que interessa, estou agora
- e o agora é para sempre?
- que interessa isso, realmente?
- quero saber se demora
- francamente! de que estás a falar?
- dos dias que me faltam pra voltar a chorar
(e a esperança?
- não ma tirem, sou criança)

fotos daqui

Inscrito na Fábrica de Letras

domingo, 13 de dezembro de 2009

por favor, digam-me


ainda falta muito para o Natal?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

resposta à letra

Há obstáculos que se ultrapassam nas alturas menos prováveis da vida, outros que permanecem inconquistáveis, e ainda outros que, mesmo não conquistados, sabem a vitória porque os soubemos contornar.
Dos mais belos que já vi, chamou-me quase todos os dias, mas o pico do Pico fugiu à minha tomada por escassos longos 1500 metros de subida íngreme. Expulsou-me com ventos cortantes e uma noite prematura, berrando furioso que não me queria lá em cima.
Sete anos depois, olho para ele e sou eu que o desafio.
Podes ficar com o teu cume. As minhas vitórias não precisaram de ti.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

referendo blogobairrista - apelo às urnas

(clicar para aumentar)

A verdade é só uma.
Para escrever qualquer coisinha, enfrasco-me de fotos, reais ou compostas, snifo a interpretação das imagens e as histórias que elas me contam, mergulho de cabeça numa orgia de pormenores, esmiuço os recantinhos todos e, pronto, lá vem tripe de fantasia, maluquices injectadas numa cabeça nem sempre muito atinada que é a minha.
E então?
E então, encontrei esta imagem.
E como até tem lá escrito 'The-La-dy-of-the-Red-Spi-rit', o caminho foi mesmo esse que o desvario das palavras tomou, e o nome com que gravei a foto nos meus documentos.
E de repente, o turbilhão de uma autêntica epifania fez-me estacar!
E não é que era perfeita?? Que lá estão os detalhes todos, excepto dois?
Pensem comigo: de quem será este retrato, em que o vermelho domina e as papoilas crescem por todo o lado? Quem respirará tanta energia, que até lhe sai pelas mãos fora, numa torrente de ideias luminosas, e que vigia este blogobairro como uma ave de rapina? Quem terá este ar perdido num mundo de letras, e só se dá bem com os dias nublados de Outono?

Pronto, eu dou mais uma ajuda: Ponham-lhe madeixas loiras e uns óculos escuros, está bem?

E como ela hoje até faz anos, que tal fazer deste, o seu retrato oficial no blogobairro?

O voto não é secreto, mas é universal, estejam à vontade!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

dela o início, meu o final # 1

Era uma vez uma história, que começou aqui

Congelo sempre mirtilos no inverno. Só assim posso utilizá-los durante todo o ano em marmelada, sumos e bolos. Quando eu era criança, o meu avô contou-me numa das suas muito fantasiosas histórias, que existia um reino de princesas do gelo, exímias amazonas e caçadoras nocturnas, com uma visão apuradíssima, devido aos vinhos tingidos com mirtilo.
Caçavam pirilampos incandescentes, pó incendiado e desperdiçado nas caudas das estrelas cadentes e velas voadoras, para iluminarem o seu reino nos invernos sombrios das montanhas onde vivam.
Um dia, encontraram um mirtilo descolorado. Muito infeliz e sozinho, esmagado numa bola de neve. Olharam para ele com espanto e..

e continua assim:

....depois de muito o remirarem, decidiram unanimemente que ele não poderia fornecer aos seus néctares a cor funda, nem o intenso paladar delicodoce, indispensável à pujança dos sentidos. Deixaram-no, pois, ali, imóvel, conservado no gelo da bola e protegido apenas com um simples feitiço de intemporalidade.
Ora, muitos séculos mais tarde, este reino do gelo foi ameaçado de extinção, quando, por pura tolice dos homens, que nada percebem do subtil equilíbrio das coisas, os pirilampos começaram a rarear e o pó incendiado das estrelas cadentes perdeu o seu brilho.
Enfraquecidas e à beira de serem engolidas pela escuridão, as princesas guardavam com esmero os últimos cálices do vinho mágico, beberricando gotículas, suficientes, apenas, para lhes manter a consciência, já que nem forças tinham para colher novos mirtilos e ainda menos para os transformar.
Eis senão quando, no ponto mais alto da montanha que lhes dava abrigo, o tecto desabou, e de lá do cimo espreitou o olho enorme de um pequeno humano, curioso investigador de novas brincadeiras em tempo de férias de Natal.
Julgaram ser o fim. Seria certamente apenas uma questão de minutos até que tudo acabasse, dizimadas pela crueldade facínora de que todos os humanos padecem. Perdida, por perdida, a mais velha das princesas reuniu todo o seu fôlego para se aproximar da criatura, em defesa das restantes, mas logo se espantou com o sorriso manso e o olhar meigo e intrigado que ele lhe devolveu.
Sem saber porquê, impeliu-se a confiar. E deu por si, encavalitada na ponta do nariz dele, a sussurar-lhe a desdita a que todas as suas princesas estavam votadas, sem mirtilos nem luz que lhes dessem força e calor.
Do bolso das calças, o pequeno humano, retirou então uma baga minúscula, envolta num manto branco de gelo. Será que isto vos ajuda? – perguntou ele baixinho. Encontrei-o ali em baixo, esmagado numa bola de neve e achei que estava sozinho e triste, por isso trouxe-o comigo.
De imediato, a princesa reconheceu o mirtilo descolorado que, séculos antes, tinham enfeitiçado e que partilhava agora o seu corpo e o seu sumo com a água gelada. Sequiosa, pediu-lhe para chegar os lábios às pingas que escorriam e sentiu-se revigorar. Apressadamente, chamou por todas as outras para que as gotas lhes chegassem também, antes que derretesse completamente. Uma a uma, recuperaram de imediato, e alegres, dançaram e voaram em volta do riso infantil que o pequeno gigante soltava.
Nunca mais aquele reino foi o mesmo.
Agora, qualquer mirtilo é preservado cuidadosamente, tão mágicas são as sua propriedades, guardados por princesas que já não precisam de pirilampos nem de pó de estrelas. Para se aquecerem e iluminarem, nos invernos sombrios, basta-lhes pendurar, aqui e ali, brilhantes fios de calda doce de mirtilos descolorados, os mais preciosos deles todos.
E o menino?
Ah, o menino cresceu, teve filhos e netos e a todos, sentados no seu colo macio, contava uma história que parecia muito fantasiosa, sobre um reino de princesas do gelo, exímias amazonas e caçadoras nocturnas, com uma visão apuradíssima, devido aos vinhos tingidos com mirtilos.

Conto inscrito na Fábrica de Letras

domingo, 6 de dezembro de 2009

isto é só um lembrete



Queridos Vizinhos,

Estou muito contente com algumas participações, mas eu gosto mesmo é de vos ver cheios de brio, muito atarefados a escolher este ou aquele berloque, dos muitos possíveis para compor o pinheiro deste condomínio.
Por isso, o desafio continua.

Enviem-me enfeites de Natal para a árvore do Blogobairro, aquela que vamos acender às zero horas do dia 21 deste mês, aqui mesmo à porta desta minha casa. Podem ser originais, já feitos, surripiados de algures, personalizados ou outros quaisquer, que eu não me importo, desde que cheguem ao meu mail, de.si.para.si@gmail.com, até ao próximo dia 19.
Da árvore trato eu, sim??

Mais uma vez, óbrigadinho!!

Nota: No dia 20 de Dezembro, à meia-noite, publicarei um post(al) de Natal, de um pinheiro enfeitado com as imagens que me mandarem. E eu quero que fique lindérrimo, ah, pois quero!!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sen(Si)bilidades



Só quando encaramos as pequenas diferenças dos outros, é que damos graças pelas nossas grandes imperfeições.

E porque se comemorou ontem o Dia Internacional da Deficiência, congratulemo-nos com isto

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

parasimpattias # 2


Exercício: um objecto assiste, desde o início do casamento, à vida conjugal de um casal.
Esta, é a sua visão da história

- Ai não posso, não posso, não posso, cof, cof, cof, que irritação, credo!
Quando, às escondidas, ela demolha as madeixas no 65 doré profond a fim de encobrir as cãs, o Almerindo parece que adivinha; carrega tanto no restaurador, que até me intoxica com os vapores. Como se lhe valesse de alguma coisa, tingir de escuro aquela meia dúzia de folículos plantados no convexo polido da calva, para impressionar as amásias debochadas que lhe alimentam o ego de macho. Coitado! Dez reis de gente, o gordalhufo inflado de robustezas flácidas, presume-se homem fatal só porque assim que arrota umas notas de euro para cima da mesa, logo alguma as vem recolher, apressada pelo gesto do regueifado dedinho indicador.
Pobre de espírito, é o que ele é, sem tirar nem pôr. Digo eu, que já lhe amparei as ouras embriagadas do whisky marado, os alagamentos viscosos da pele sebosa, o ronco destemperado e aquele hálito a alho que me deixa hirta.
Que ele nunca me enganou, o pavão! Namorou-a sobre o veludo das músicas do Julio Iglesias e ela casou-se, iludida por uma vida de impolutos lençóis retesados de goma, a inocente. Mas os dois foram-se desconhecendo aos poucos e tudo se tornou engelhado, puído, esfiando-se a cada tentativa de ponteio.
A pena que eu tenho da Gertrudes, tão esmifrada e consumida ela está, Jesus! Ao fim de um quarto de século bem podia receber dele um mimo, um agrado, um sorriso que fosse, mas nada.
À noite, deita-se de maquilhagem a preceito, na esperança de lhe despertar o interesse, e levanta-se, ela e eu, de fronha encharcada e borratada de tanta lágrima vertida, olheiras amassadas, vincos enrugados na testa. São noites passadas em claro,
aflições, sufocos, palpitações desabridas e a súplica, murmurada ao meu ouvido, para que Deus não a leve. Não sem antes ter provado uma festa em vez de uma murraça.
E de manhã, lá vai, aos tropeções e a arrastar-se pelo quarto fora até à cozinha, onde despeja pela goela abaixo os mil e um comprimidos que nem o corpo lhe aliviam, quanto mais a alma.
E eu penso cá com os meus botões de madrepérola, que ela já devia ter posto um fim a isto. Logo da primeira vez, já lá vão dez anos, em que ele teve o desplante de fazer deitar, em cima dos meus folhos de renda, a descarada da vizinha da entrada ao lado. Preferiu calar, mesmo contra a minha vontade de o pôr com dono, só porque este estafermo do Almerindo foi o único homem da vida dela.
Dizem que a almofada é boa conselheira. Mas porque raio será que ninguém me ouve?

E será que quem andou a falar com a Patti tem melhor sorte? Vão, vão lá ver...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

é só para lembrar...

e aqui também.

Nas primeiras quartas-feiras de cada mês, leia, reflicta e comente... a dobrar!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estou num sarilho!! Ajudam-me??


Ai, valha-me Deus, Sra. PresidentA, que só temos estes enfeites para a árvore de Natal do Blogobairro, já tão velhos que são e meios escaqueirados, isto é uma vergonha, não termos nem um tostãozinho para comprar uns a condizer com a dignidade deste Condomínio!

Eu juro que foi assim que falei com a Patti, ah, pois foi, mas ela fez ouvidos de mercador e, quando fui pelo saco azul, nicles, bitocles, já o tinha guardado no alforge daquela vespazinha que utiliza todos os anos para andar a subir e a descer o Chiado, nas mercas para a Famelga & Cia., Lda. e, olha, pilim que é bom, nem vê-lo!

E agora estou num sarilho, ah, pois estou, aflitinha, consumida para fazer o nosso pinheirinho e só trastes velhos para lá pendurar....

A não ser que vocês ajudem.... e eram tão meus amigos se o fizessem!!
(eu até prometo fechar os olhos a algumas coimas, mas shhhhhhiu, não falem alto para a PresidentA não ouvir!!!)

Ó Vizinhos, vá lá, enviem-me enfeites de Natal para a árvore do Blogobairro, aquela que vamos acender às zero horas do dia 21 deste mês, aqui mesmo à porta desta minha casa. Podem ser originais, já feitos, surripiados de algures, personalizados ou outros quaisquer, que eu não me importo, desde que cheguem ao meu mail, de.si.para.si@gmail.com, até ao próximo dia 19.
Da árvore trato eu, sim??

Óbrigadinho!!

Nota: No dia 20 de Dezembro, à meia-noite, publicarei um post(al) de Natal, de um pinheiro enfeitado com as imagens que me mandarem. E eu quero que fique lindérrimo, ah, pois quero!!

domingo, 29 de novembro de 2009

confissões de domingo # 5

Confesso:
Vi-o ontem, pela enésima vez. E continuo a gostar imenso.



'O AMOR ACONTECE'

(para quem não se lembra, e embora não apareça no trailer, não esqueçam que é a nossa Lúcia Moniz que contracena com o Colin Firth)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

viagens subcutâneas # 1


Rebolei desamparada por aqueles desfiladeiros tortuosos, esbarrei com espirais e ângulos reentrantes, espremi-me contra passagens sufocadoras e, finalmente, caí de supetão na fronteira entre dois hemisférios; uma ponte deveras apinhada de trabalhadores solícitos e compenetrados nas suas funções, cada um carregando o fardo que lhe competia carregar, quase todos transportando um pacotinho electrizante, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.
Raros, mas visíveis, pelo meio daquela rígida eficácia, alguns deles denotavam alguma preguiça, esticando os cinco e os dez braços num acto pachorrento e melado, arrastando o passo e atropelando com displicência o ritmo cadenciado dos restantes. Sobre estes, recaía a imediata atenção dos vigilantes receptores neuronais, que, dum lado e do outro, os encaminhavam para um sector definido. Uma porta rapidamente aberta e de novo fechada, deixava entrever num relance, uma cabina de duche, de onde se evaporavam os característicos aromas glicosados de cafeína, retemperadores do adormecimento.
De repente, um tremor, ao longe uma faísca, e logo depois o ribombar cavernoso de um trovão. Águas agitadas sob a ponte a gingar perigosamente, vagas gigantes que se abatem, encrespadas em leque, inundando os mais recônditos interstícios, um escuro medonho e sobrecarregado de tensões, um frémito urgente em disparar o passo, um tornado instantâneo e uma descarga fulgorosa, de pacotinhos electrizantes que se deslocam à velocidade da luz.
Ainda me abraço teimosamente aos esteios da ponte, exausta, encharcada e deslumbrada quando tudo termina. Do exterior chegam risos, palmas, gritos de vitória e até eurecas, pelo resultado evidentemente profícuo, da mais intensa tempestade cerebral a que assisti.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

de mim para mim

Foto minha, Praga 2009
Passion Roses from Argentina

E se, de repente, tivessem que me definir através de uma música, qual escolheriam?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

antes de o Tempo ser Tempo # 4


Era uma vez, uma velha muito velha, que não fazia outra coisa senão fiar. Dia e noite, noite e dia, fiava, fiava, roca e fuso sempre a trabalhar, novelos e novelos de alvo algodão imaculado, tão brancos eram, como negra cada sua mão, traçada e rilhada de tanto fio fiar.
E vinham as comadres, velhas menos velhas do que ela, que não se cansavam de lhe perguntar, para que lhe servia tanto fio, que toda a vida a tinham visto fiar. E da mesma forma ela sempre respondia, que um dia chegaria aquele em que serviria todo o fio fiado, porque o seu destino seria, aquele que uma Fada lhe fadaria, e que a recompensa decerto seria do seu agrado.
Mas, o que é certo, certo, é que a velha se finou, e o destino, esse, às comadres nunca se revelou.
Nem podia.
Como é que alguém acreditaria, que, depois de finada, a velha continuaria a fiar tanta fiarada? E, quem diria, que cada fio perfeitamente saberia a tarefa premeditada?
Ai querem saber o que viria a acontecer? Então escutem bem o que vos vou descrever:
Do novelo do sol se soltava, uma e outra ponta desembaraçada, que, depois de fiada, sozinha formava uma hábil laçada. Da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, os fios se fundiram em trama bem feita, forrando o céu pelos Deuses pisado, de um fofo e alvo atapetado.
Contentes com o seu novo piso, os Deuses abriram o seu raro sorriso e a velha recompensaram, com um palácio fulgente, que ela habitaria eternamente, e de onde veria, até onde a vista alcançasse, todos os fios dos tapetes que a Fada lhe dissera que fiasse.

Fantasia? Nem pensar!! Ora espreitem lá o palácio a ofuscar...

Fotos minhas, algures no céu da Europa

sábado, 21 de novembro de 2009

é de ir às lágrimas........



(o meu pai foi requê????????)

a quem conseguir traduzir, agradeço explicação....


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

preto no branco

foto daqui

Ao dar a laçada do é, ao pôr a perninha do á, ou mesmo o rabinho do quê, aquelas que acabei de deixar bem definidas em cada volta do punho, puxam-me de novo para que as repita. Querem que as use outra vez, talvez por outra ordem, talvez por outra causa.
E assim, às vezes distraio-me de mim e, sem querer, vou.

participação no desafio Fábrica de Letras

terça-feira, 17 de novembro de 2009

rótulos


Maria Constância era uma rapariga muito popular, daquelas que fazem nelas os rapazes atentar, alegre e expressiva, excepto quando se quedava aérea e reflexiva, de olhar tristonho e ausente, pouco compreendido por muita gente.
Nada lhe faltava, nem de nada precisava, mas rapidamente passava de pensamentos entusiasmantes a tristezas galopantes, deixando desconcertadas as suas amizades mais chegadas, que assistiam, com uma consternação sentida, ao rolar daquela vida, num acidentado tropel, desgovernado e louco carrocel.
Depois de muito ponderada, a decisão foi tomada: Maria Constância por todos iria ser levada a um médico reputado, de diploma na parede ricamente pendurado, que depois de muito a remirar, na hora lhe diagnosticou um distúrbio bipolar.
Ai, meu Deus!! logo a mãe se lamenta, de doença tão peçonhenta. Que será da menina quando eu me for?? lembra ela com horror. A culpa é tua, mulher, que não a soubeste educar! diz o pai a gritar, se fosse eu, bem estaria, e nunca na vida, a tua filha seria uma doida varrida!
Ó gente!!! gargalhou Maria Constância, inconsequente, deixando todos em suspenso; se calhar eu mereço este mal de que padeço, será talvez minha natureza, estar assim, na eterna incerteza, do humor que terei ou das lágrimas que chorarei. Doida varrida? Pois serei, é o jogo da vida, e para ela partirei, decidida, a que de hoje em diante, e em qualquer circunstância, se mude o meu nome para Maria Inconstância!!
E com um gesto teatral retirou-se, o seu público calou-se e ainda hoje se murmura entredentes, que a louca na sua loucura, era mais sagaz que muitos inteligentes.

domingo, 15 de novembro de 2009

confissões de domingo # 2

Quero uma lareira, um sofá, uma manta, um pijama largo, um par de meias de lã, umas pantufas quentes, uma chávena de chá a fumegar e um livro.
Novinho em folha, a escaldar nas mãos.


Quer entrar e aproveitar o aconchego?
Então vá, instale-se que eu leio em voz alta.
Só por ser para si.

Tremia, quando encostaram o carro à tua porta.
A corrida estava prestes a começar, só subiria para recolher um livro. Ofegava como um cavalo cansado quando galguei aqueles quatro andares a pé, nervosamente, e, suspensa num degrau, perguntei:
- Estás aí?
Era a primeira vez que te ouvia, a tua voz a sossegar-me:
- Claro!
Abrandei a escalada tomada de uma sensação conhecida: uma vez mais alguém mudaria a minha vida. Não sabia até que ponto ias fazê-lo, mas soube logo que eras tu. Talvez tivesse adivinhado antes, mas era ainda tão inverosímil que não me dei crédito nem, lembro-me agora, tive tempo. Estavas ali, surgias antes de me recompor, era já naquele andar, tomara fôlego para mais degraus, mas não foi necessário. Expectante, com um olhar risonho, longinquamente retraído, enfrentando-me logo, evitando elegantemente encostar o olhar nalgum aspecto da minha indumentária ou numa só forma do meu corpo, como que a aceitar-me logo, sem restrições, foi esse o instante que o meu coração reteve e guarda como uma relíquia, Nuno, esse o momento em que te conheci e reconheci como alguém que me estaria destinado....(*)

(*)Extracto autorizado da obra '4 & 1 Quarto' de Rita Ferro

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

maravilhas do meu Porto # 2

Fotos minhas, Porto 2009

Já são raras as vezes que a Baixa do Porto se me oferece assim com tanto encanto, a fervilhar de gente, tripeiros de gema, que falam alto e gesticulam, espalhando em redor o sotaque carregado de sons orgulhosamente característicos, que um dia me ensinaram a não pronunciar. E então, abro os ouvidos e deixo-me espraiar naquela graça das consoantes trocadas, das palavras acentuadas a meio, de ãos transformados em oums e terminados em -he ou -hem surdos, tão inconfundivelmente genuínos como quem os solta, Ó Bánessa, olha-me que o galoum-he 'tá muito quelaro, filha, bota-me aí mais um bocado de café-hem, e penso no desdém com que se olha para esta e outras falas, tão poucos que nós somos e tão ricos e diversos, nestes pouco mais de 700 quilómetros de rectângulo à beira mar plantado.
Conto mentalmente quantos conseguirei identificar, e concluo que, do minhoto ao algarvio, do açoriano ao madeirense, passando pelo transmontano e pelo alentejano, não há região que não tenha o seu próprio linguajar musicado ao ritmo das suas tradições e raízes, mas temo pelo dia em que eles se percam e com eles a nossa própria identidade.
Termino o meu moléte prensado com queijo e chamo, sorrindo, pela Bánessa, a quem nem me incomodei de pôr o e assumo o meu bairrismo incontido, clamando pela especialidade da casa: Traga-me 4 pastéis de carne, pra lebár, se fáxabore!



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

provocações


Mete a primeira e arranca para a viagem da sua vida. Sabe que o espera um sinuoso caminho, que se apraz vencer com o gozo que dão as coisas conquistadas, e que irá saborear da primeira à última curva.
Do colo da planície branca, onde repousou por momentos, ganha fôlego para tornear, em círculos cada vez mais concêntricos, ambos os sistemas montanhosos, gémeos de provocadores cumes róseos, que se erguem à sua frente, desafiadores. Demora-se em cada volta, subindo e descendo em espiral, apreciando a maciez da estrada, que se oferece com gosto, voluptuosa, no desfiladeiro que divide, exactamente ao meio, as colinas siamesas, e o levam de novo à planície, coberta de uma rasa vegetação doirada.
Conduz em ziguezague, na embriaguez de nada perder da paisagem, de repente mais estreita nos limites laterais, cintando-a, para logo se alargar numa ousada contracurva de tentação ao mergulho no abismo, do monte infernal que se adivinha. Hesita. Ou se perde já ali, ou resiste e segue viagem pelas rectas paralelas que lhe prenderam o olhar numa noite de estio.
Segue em frente. Sempre à mesma velocidade, sem travagens bruscas, deslizando, contornando e controlando o desejo de ir mais além, tornando a percorrer caminhos já percorridos.
Ela solta uma gargalhada, provocando uma curva mais no seu rosto.
Já não precisa de lhe ensinar mais nada.
O mapa do seu corpo já ele o sabe de cor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

cerimónias


Nos pés delicados de gueixa, a chinela bordada rebrilhava e enfatizava a sua pequenez. Fora por eles que Liao Xing se tinha apaixonado, no dia em que, sentado no chão do salão de chá, ela se aproximou para o servir.
Regressou uma, duas, três, dez vezes, para a observar de vários ângulos, decorou os gestos cerimoniosos, as indeléveis imperfeições da pele caiada, o contorno preciso do coração na boca vermelha, o olhar submisso, que chegou a surpreender selvagem, quando as visitas se tornaram rotineiras na vida de ambos.
Nunca trocaram uma palavra. Falavam pelos rituais, as mesuras e os pormenorizados salamaleques estudados, repetidos dia após dia, ano após ano, descobrindo-se tiques e significados, à velocidade sempre recatada dos pequenos passos, apertados pelo quimono.
Um dia, ele descobriu-lhe uma ruga, no outro, um fino cabelo branco debaixo da rígida cabeleira, no seguinte, um leve tremor na mão que segurava a taça.
À saída, olhou para trás e tentou contar os dias, mas tinha-lhes perdido a conta, reviu-se no reflexo de um espelho, com a imagem de um velho que não conhecia.
Entrou numa loja de sombrinhas e comprou-as todas.
Uma, por cada passeio que a vida lhes tinha negado.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

há mails que dão um post # 4


oh, (Si)nhores, mas não há nenhuma onda que o leve??

Ahh, e não percam a versão em inglês, aqui

BOM FIM DE SEMANA!!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

onomatopeias


E vieram os piratas, em manobras de abordagem, balançados nas grossas cordas, tchin, tchin, tchin, defendem-se os Mosqueteiros, pum, pum, trrum, disparam as balas dos canhões, vuucchhh, vuuuuchhh, caem as setas dos índios dentro do forte, ayaayayayaa, eu ser Touro Sentado, e só falar com Daniel Boone, tchh, tchh, tchh, uhhh, uuuhhh, apressa-se o Expresso que leva para o Oriente longínquo o crime perfeito, flap, flap, flap, sobe a passarola de Bartolomeu, trrring, trrrring, trring, soa a campaínha da bicicleta, na volta ao mundo em 80 dias, glub, gluuub, glllub, desce mais uma légua o submarino, arf, arf, arf, ainda falta tanto para acabar esta viagem ao centro da Terra, clap, clap, clap, para a actuação da Madame Butterfly, catapum, catapum, catapum, lá vêm os cavalos da corrida do Hipódromo, zás, trás, pás, caiu o Conde de Montecristo em cima dos seus inimigos, enquanto um deles, da surpresa, se estatela estrondosamente no chão, vítima de apoplexia fulminante.
E eu, cansada destas aventuras, shhhhhhhh, adormeço serena e profundamente, zzzzzzzzzzz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

parasimpattias # 1


Exercício: Um velho está em pé numa paragem de autocarro, com uma bengala na mão e um folheto na outra. O dia é frio, chuvoso e triste.

(Narrador na 1ª pessoa)

Cada vez mais me custa subir esta rua. Ao fim de tantos anos, parece agora refilar com o peso dos meus passos e diverte-se a soltar-me armadilhas, uma pedra eriçada aqui, um charco de água acolá, prontinha para me pregar uma rasteira traída ou uma escorregadela fatal. Mas não lhe quero dar essa alegria. Não dou. Não, por mim, ainda vai ter muito que me aturar. Velhos são os trapos e eu sou de ferro; como diz a Dra. Lurdes.
Raio destes ganapos! Eu bem lhes mostro os dentes, aviso-os que chego, exibo os predicados que me deram no berço, mas nada os demove de ocupar selvática e ostensivamente os bancos da paragem, em exercícios patéticos de paixões frenéticas que, invariavelmente, terminam nas férias grandes. E invariavelmente, fico de pé. Como as árvores. Mas sem morrer, graças ao Senhor.
E à Dra. Lurdes.
O 308 demora sempre a esta hora. Ainda para mais com o tempo assim, que me pode resfriar.
Lá atrás continuam a escalar no tom e no atrevimento, como se o mundo acabasse amanhã, e urgisse dar continuidade à espécie humana na sua mais reles herança. Fosse eu que mandasse e afivelava-lhes o cinto no lombo, para terem respeito, as mulheres - mas quais mulheres, estas, são miúdas de bibes ainda suados de leite, metidas a meretrizes - devem ser dignas de reverência à sinuosidade helénica das formas, à harmonia cadenciada do andar, à generosidade de colos mansos e perfumados.
Como o da Dra. Lurdes.
Ainda sinto o cheiro dela neste folheto. Ainda sinto a maciez das mãos que mo entregaram. Tão presente, como de cada vez que me envolve o antebraço no aperto das tensões. Ou me deixa entrever o desenho dos seus seios maduros, quando me ausculta.
Tivesse eu coragem, tivesse eu certezas, e seguiria os conselhos aqui escritos: tomaria de bom grado esta droga para que me deixasse tão vigoroso como esta minha bengala, de bandeira desfraldada sempre que tocasse o hino, sempre que lhe pudesse tocar e a fizesse vibrar, no contratempo do tempo que ainda tenho para lhe dar, e, juntos, compormos a sinfonia da nossa solidão. Que deixaria de o ser.
Dra. Lurdes, minha querida.

Olha, lá vem o 308, espero que este paspalhão não pense que eu não reparei que chegou depois de mim, deixa lá pôr a bengala a jeito, eu estou primeiro, ouviu?

Qualquer semelhança entre este texto e o que foi escrito aqui, não é mera coincidência

domingo, 1 de novembro de 2009

ouçam bem o que ele diz, ouçam bem!!!!!!

e é que nem pensem em deixar de ler!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

uuuuhhh, scary!! (antevisão hallowínica)


.......
A meia noite chegou e Cinderela não voltou do baile. Ficou nos braços do Príncipe, a dançar, a rodar pela sala toda, esquecida, já sem vestido de seda, nem tiara nos cabelos, nem sapatinhos de cristal, desmaquilhada, remendada, de avental e chinelos.
O Príncipe parou.
Boquiaberto, olhava-a de cima abaixo.
Ora abóbora, exclamou, normalmente é preciso casar primeiro e esperar 30 ou 40 anos até que exibam o fim do prazo de validade!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o diário de Maria Emília # 2



Querido Diário,

Não sei mais o que fazer. O Laurentino(a) anda outra vez com um humor que não se atura, os chiliques, quase-desmaios, calores e afrontamentos andam a dar comigo em doida, pois agora é porque está frio e ó mulher tu fecha-me essa porta da cozinha, que tu estás é a ver se me matas com a aragem que vem de lá da fábrica das salsichas e 'inda me pregas uma pneumonia, e logo a seguir é porque está um calor de morrer, e ó 'Mila, tu já não me queres, 'tás é a ver se me abafas de vez, eu tou velho(a) e acabado(a), mais valia tu temperares a comida com pó das formigas e prontos acabava-se tudo.
O médico bem me disse que ia ser difícil, mas eu não acreditei e agora até me sinto culpada de, na última vez que fui à Missa, ter comungado, de raiva engoli a hóstia inteirinha e sem me ter confessado, que nem coragem tenho de dizer estas coisas ao Padre Lino, ele ainda iria pensar que eu era uma daquelas doidivanas que se esfregam todas umas nas outras, credo!
A única pessoa que me entende é a Amélinha, aquela vizinha amiga do peito, que vive aqui na entrada ao lado.
É ela que me tem dado muito apoio, aquela mulher sabe destas coisas da vida e não é pouco! Então não é que descobriu que o meu Laurentino(a) não era caso único e que até havia mais ermoflogistas por esse mundo fora, que dão para os dois lados porque as miudezas de dentro estão todas misturadas??
Olha, querido Diário, parece-me que é ela que vem a descer a rua para ir à padaria do Onofre, já lhe ouço o toc-toc dos chinelinhos de plumas no passeio. Vou ter com ela antes que o Laurentino(a) acorde, ele(a) não morre de amores pela Amélinha, cá para mim deve ser ciumeira, que queres que lhe faça?

Ó Amélinhaaaa, filha, espera por mim!!!!....

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

diz-me

(clicar para aumentar)

Queres que te conte a minha história?
Então, olha-me bem fundo nestes olhos,
e perde-te nos fios da minha memória.
Lê os registos de dor, alegria e saudade,
mais os amores, as dores e outros escolhos,
escritos nas rugas, sulcos abertos da idade.
Que queres tu mais que eu te diga?
Nem me peças, adivinha tu.
Eu só olho.
Põe-me a alma a nu.

Incluído na Fábrica de Letras

sábado, 24 de outubro de 2009

parabéns, CBO!!!


Não podia deixar passar.
Nem podia deixar de recordar:
Há 1 ano atrás, foi assim, de ARROMBA!!


E o que a gente se divertiu, não foi, vizinhança???

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

coisas do outro mundo


Gostava bem dele, eu, quando nos escapávamos das aulas, principalmente naqueles dias em que o Outono começava a esfriar as cabeças de vento dos nossos doze, treze anos, tão cheias ainda do sol, areia e mar com que nos alambazávamos em três meses de férias.
Sorrisos cúmplices, bilhetinhos trocados e, ala, que o tiro a Matemática marcava a partida, driblava-se a atenção da Visgarolha, que, coitada, sofria de estrabismo, mais os bigodes arrepiados do Director Nini Pé de Salsa, que se rebolava pelos corredores, e, pronto, já chegámos, entre risos abafados e respirações entrecortadas pela corrida final, lá nos atirávamos para o chão coberto de folhas mortas, vitoriosos por mais uma balda.
O Ruço já lá tinha escondida a guitarra.
Embrulhava-a numa saca de sarapilheira, desviada das batatas para semente, no sótão do avô Luís, e encaixava-a no oco de um pinheiro velho, seco já da sangria da resina, que, ultimamente, albergava também uma desengonçada cadeira de praia, que a Tia Guilhermina deixara de usar. Para eu não me sujar, dizia ele, e espantada que eu ficava a pensar como é que aquela loira cabeça se teria lembrado de tal pormenor.
E ficávamos.
Horas esquecidas a gargalhar, a tocar e a cantar, a uma e duas vozes, a calar melros enfurecidos, a inventar letras e músicas, a experimentar interpretações de melodias já conhecidas, a abandonarmos o mundo por uma paixão da alma.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

dúvida metódica

foto minha - Praga 2009

Neste cruzamento da vida, que sinal deveremos respeitar?

sábado, 17 de outubro de 2009



Vá lá, podem comentar que eu não olho....

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

14/10/91



Foto tirada por uma amiga

Misturam-se ingredientes exclusivos, explosivos carnais, resultantes de um acto tresloucado, pensado, amado ou violado, encontram-se células, mitocôndrias, cromossomas, genótipos e fenótipos, núcleos, membranas plasmáticas, citoplasmas, vacúolos e inclusões, provocam-se cadeias de reacções, divisões e multiplicações, rasgam-se trajectos tortuosos de teias de líquido vital, descarregam-se cargas eléctricas em impulsos mesuráveis em volts, amperes e oms, tecidos frágeis, flácidos e disformes alinhavam durezas em tutanos, medulas e cartilagens, encolhem-se caudas, arredondam-se formas, esculpem-se perfeições em detalhes mínimos, tão mínimos como uma unha do dedo mindinho, uma pestana, um fio de cabelo.

E quem diria que isto tudo amassado é uma alma?

Milagre revelado em palavreado científico, imagens a 2 e 3 dimensões, que não dizem o que sentimos por aquele ser, tenha ele o tamanho de um grão de arroz ou já não nos caiba na barriga.

Foi assim que começaste, filha, e foi aí que comecei a amar-te.

**Post publicado em 14/10/2008, e que no seu 18º aniversário ainda faz mais, mas muito mais sentido.....


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

1 ano


Escorreu por entre os dedos, esvaiu-se em sílabas, vírgulas e pontos finais, fotogramas de sentimentos, escoados e equilibrados na ténue fronteira que divide o real do imaginário, a tola alegria da apertada angústia.
Assim passou um ano.
E assim passaram as emoções que eu tive o privilégio de aqui viver:
De Si para si.

Obrigado a todos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

venham cá buscar o que é vosso, sff!!

Ora digam lá se não sou uma AssitentA muito atenta às necessidades deste bairro, ah, pois sou, nunca me esqueço de quem me acompanha o ano inteiro, vá eu para onde for e às minhas próprias custas, não ando cá a passear de saquinhos azuis, penduradinhos no pulso, ah, pois não!
E poupadinha, ããh??
É que de recuerdos só trouxe mesmos estes postalinhos personalizados do aeroporto de Milão, tax free, para ficar mais barato, todos pagos do meu próprio bolso, ah, pois é!
E até os selos foram lambidinhos com a quantidade certa de cuspo, ah, pois foram, que eu não sou de desperdícios, mas depois não tive tempo de os meter no correio, por isso peço-vos que os venham cá buscar pessoalmente.
Então, cá vai o primeiro:

Ó Gi, leve lá o seu, fáxavor....


Grande Jóiaaaaaaa!! Este é para si!!



E este é para a Velvet, pois claro...


Mais outro para a Vera;


O da PresidentA lá tinha que ser diferente...

tal como o da Annie...


e este foi escolhido a dedo para o Carlos


Que me desculpem os outros vizinhos para quem não trouxe postalinhos, mas com o salário que a PresidentA me paga, não posso fazer milagres, ah, pois não, mas não se amofinem, eu lembrei-me de todos, ah, pois lembrei, e até fiquei triste de não arranjar nenhum Berlusconizito para o Salvo, mas que hei-de eu fazer, quem dá o que tem, a mais não é obrigado, ora não é??

terça-feira, 6 de outubro de 2009

estou de volta pró meu aconchego


foto minha - Praga 2009

É esta a porta que dá acesso ao blogobairro a que pertenço.
Daquela porta para cá, abre-se um pátio redondo e soalheiro, delimitado pelas casas de cada vizinho, todas com as suas próprias portas, escancaradas umas, ligeiramente encostadas, outras, com o fecho apenas no trinco, ainda outras, bastando empurrar um pouquinho para que, de novo, se abram.
Todas elas são coloridas, ladeadas por verdes trepadeiras e vasos com plantas, encimadas por canteiros de flores e cortinas brancas, que esvoaçam à corrente de ar, escapando-se pelos estores fora; no centro do pátio há um jardim, com árvores que dão sombra e servem de encosto a banquinhos de ferro forjado e a mesas recortadas, onde já foram escritas linhas que se querem partilhar.
Olha, a Pitanga lá está, de sorriso rasgado, a cumprimentar quem passa, 'Oi, meninos, tudo bem?? Eu 'tava morrendo por esse choupe de dois dedos de colarinho, são servidos??', já lá vou, já lá vou, quero saber notícias do rapaz, pois claro.
Bom dia, Si!, ouço uma voz de lá de cima. Ainda não a tinha visto, mas ela a mim viu logo, que nada lhe escapa, por detrás dos óculos escuros, do cimo daquela varanda, onde o sol de Outono bate em cheio. Bom dia, Patti, então hoje como é que eu me chamo?? Ainda não sei, ri-se, mas deve ser praí uma Goreti Mercedes! Logo leio, então, fico à espera!
Do lado oposto, ouve-se a música ritmada do bater de teclas, que subitamente é coberta por uma gargalhada fresca e sonora. A Gi e aquela imaginação galopante, não deixam a casa esmorecer, há sempre qualquer coisa de novo a sair de lá, que surpreende até os vizinhos mais assíduos. E lá fico eu cheia de curiosidade, e ela aguça-a ainda mais quando vem cá fora piscar-me o olho, num enigmático sorriso.
De cabeça no ar, a olhar para as varandas, nem dou por ela que quase me atropela, esta figura de chapéu, em quem, assim de repente, só distingo uma pêra grisalha, que me cumprimenta delicada mas fugazmente e segue o seu caminho. Reconheço o Carlos, que em passo acelerado lá vai para mais uma reportagem, a pé, como sempre faz todas as manhãs e que se desvia mesmo à última do esguio Mounty, chegado de mais uma noitada.
E, lá ao fundo, mora a Vera com a sua enorme família, na curva, a Luísa, mesmo ao lado, a Grande Jóia, mais o endiabrado do Mike, que nunca fala a sério, aqui à direita a Velvet, de estores corridos, o Salvo, que adora resmungar alto, o Pedro e a sua porta cor de laranja, o Paulo do gabinete cinzento, e tantos outros que todos os dias me fazem sorrir.
Estou quase a abrir a minha porta, já tenho a chave na mão, quando recebo uns borrifos na cabeça: Ei, cuidado!!, exclamo a rir; do lado esquerdo, rega-se abundantemente o tomilho, a menta e o hipericão da Violeta, que enrubesce pelo descuido. Não faz mal, descanso-a, assim arejo as ideias . E só então reparo que, na esquina mais próxima, há malas por desfazer, caixotes por abrir, sinais de mudança de mais um vizinho. Não sei quem será, nem de onde veio, mas só pode ser boa pessoa. Neste bairro só vive gente assim.

E então, vizinhança? Mostrem lá, qual é a porta da vossa casa??