sexta-feira, 30 de outubro de 2009

uuuuhhh, scary!! (antevisão hallowínica)


.......
A meia noite chegou e Cinderela não voltou do baile. Ficou nos braços do Príncipe, a dançar, a rodar pela sala toda, esquecida, já sem vestido de seda, nem tiara nos cabelos, nem sapatinhos de cristal, desmaquilhada, remendada, de avental e chinelos.
O Príncipe parou.
Boquiaberto, olhava-a de cima abaixo.
Ora abóbora, exclamou, normalmente é preciso casar primeiro e esperar 30 ou 40 anos até que exibam o fim do prazo de validade!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o diário de Maria Emília # 2



Querido Diário,

Não sei mais o que fazer. O Laurentino(a) anda outra vez com um humor que não se atura, os chiliques, quase-desmaios, calores e afrontamentos andam a dar comigo em doida, pois agora é porque está frio e ó mulher tu fecha-me essa porta da cozinha, que tu estás é a ver se me matas com a aragem que vem de lá da fábrica das salsichas e 'inda me pregas uma pneumonia, e logo a seguir é porque está um calor de morrer, e ó 'Mila, tu já não me queres, 'tás é a ver se me abafas de vez, eu tou velho(a) e acabado(a), mais valia tu temperares a comida com pó das formigas e prontos acabava-se tudo.
O médico bem me disse que ia ser difícil, mas eu não acreditei e agora até me sinto culpada de, na última vez que fui à Missa, ter comungado, de raiva engoli a hóstia inteirinha e sem me ter confessado, que nem coragem tenho de dizer estas coisas ao Padre Lino, ele ainda iria pensar que eu era uma daquelas doidivanas que se esfregam todas umas nas outras, credo!
A única pessoa que me entende é a Amélinha, aquela vizinha amiga do peito, que vive aqui na entrada ao lado.
É ela que me tem dado muito apoio, aquela mulher sabe destas coisas da vida e não é pouco! Então não é que descobriu que o meu Laurentino(a) não era caso único e que até havia mais ermoflogistas por esse mundo fora, que dão para os dois lados porque as miudezas de dentro estão todas misturadas??
Olha, querido Diário, parece-me que é ela que vem a descer a rua para ir à padaria do Onofre, já lhe ouço o toc-toc dos chinelinhos de plumas no passeio. Vou ter com ela antes que o Laurentino(a) acorde, ele(a) não morre de amores pela Amélinha, cá para mim deve ser ciumeira, que queres que lhe faça?

Ó Amélinhaaaa, filha, espera por mim!!!!....

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

diz-me

(clicar para aumentar)

Queres que te conte a minha história?
Então, olha-me bem fundo nestes olhos,
e perde-te nos fios da minha memória.
Lê os registos de dor, alegria e saudade,
mais os amores, as dores e outros escolhos,
escritos nas rugas, sulcos abertos da idade.
Que queres tu mais que eu te diga?
Nem me peças, adivinha tu.
Eu só olho.
Põe-me a alma a nu.

Incluído na Fábrica de Letras

sábado, 24 de outubro de 2009

parabéns, CBO!!!


Não podia deixar passar.
Nem podia deixar de recordar:
Há 1 ano atrás, foi assim, de ARROMBA!!


E o que a gente se divertiu, não foi, vizinhança???

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

coisas do outro mundo


Gostava bem dele, eu, quando nos escapávamos das aulas, principalmente naqueles dias em que o Outono começava a esfriar as cabeças de vento dos nossos doze, treze anos, tão cheias ainda do sol, areia e mar com que nos alambazávamos em três meses de férias.
Sorrisos cúmplices, bilhetinhos trocados e, ala, que o tiro a Matemática marcava a partida, driblava-se a atenção da Visgarolha, que, coitada, sofria de estrabismo, mais os bigodes arrepiados do Director Nini Pé de Salsa, que se rebolava pelos corredores, e, pronto, já chegámos, entre risos abafados e respirações entrecortadas pela corrida final, lá nos atirávamos para o chão coberto de folhas mortas, vitoriosos por mais uma balda.
O Ruço já lá tinha escondida a guitarra.
Embrulhava-a numa saca de sarapilheira, desviada das batatas para semente, no sótão do avô Luís, e encaixava-a no oco de um pinheiro velho, seco já da sangria da resina, que, ultimamente, albergava também uma desengonçada cadeira de praia, que a Tia Guilhermina deixara de usar. Para eu não me sujar, dizia ele, e espantada que eu ficava a pensar como é que aquela loira cabeça se teria lembrado de tal pormenor.
E ficávamos.
Horas esquecidas a gargalhar, a tocar e a cantar, a uma e duas vozes, a calar melros enfurecidos, a inventar letras e músicas, a experimentar interpretações de melodias já conhecidas, a abandonarmos o mundo por uma paixão da alma.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

dúvida metódica

foto minha - Praga 2009

Neste cruzamento da vida, que sinal deveremos respeitar?

sábado, 17 de outubro de 2009



Vá lá, podem comentar que eu não olho....

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

14/10/91



Foto tirada por uma amiga

Misturam-se ingredientes exclusivos, explosivos carnais, resultantes de um acto tresloucado, pensado, amado ou violado, encontram-se células, mitocôndrias, cromossomas, genótipos e fenótipos, núcleos, membranas plasmáticas, citoplasmas, vacúolos e inclusões, provocam-se cadeias de reacções, divisões e multiplicações, rasgam-se trajectos tortuosos de teias de líquido vital, descarregam-se cargas eléctricas em impulsos mesuráveis em volts, amperes e oms, tecidos frágeis, flácidos e disformes alinhavam durezas em tutanos, medulas e cartilagens, encolhem-se caudas, arredondam-se formas, esculpem-se perfeições em detalhes mínimos, tão mínimos como uma unha do dedo mindinho, uma pestana, um fio de cabelo.

E quem diria que isto tudo amassado é uma alma?

Milagre revelado em palavreado científico, imagens a 2 e 3 dimensões, que não dizem o que sentimos por aquele ser, tenha ele o tamanho de um grão de arroz ou já não nos caiba na barriga.

Foi assim que começaste, filha, e foi aí que comecei a amar-te.

**Post publicado em 14/10/2008, e que no seu 18º aniversário ainda faz mais, mas muito mais sentido.....


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

1 ano


Escorreu por entre os dedos, esvaiu-se em sílabas, vírgulas e pontos finais, fotogramas de sentimentos, escoados e equilibrados na ténue fronteira que divide o real do imaginário, a tola alegria da apertada angústia.
Assim passou um ano.
E assim passaram as emoções que eu tive o privilégio de aqui viver:
De Si para si.

Obrigado a todos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

venham cá buscar o que é vosso, sff!!

Ora digam lá se não sou uma AssitentA muito atenta às necessidades deste bairro, ah, pois sou, nunca me esqueço de quem me acompanha o ano inteiro, vá eu para onde for e às minhas próprias custas, não ando cá a passear de saquinhos azuis, penduradinhos no pulso, ah, pois não!
E poupadinha, ããh??
É que de recuerdos só trouxe mesmos estes postalinhos personalizados do aeroporto de Milão, tax free, para ficar mais barato, todos pagos do meu próprio bolso, ah, pois é!
E até os selos foram lambidinhos com a quantidade certa de cuspo, ah, pois foram, que eu não sou de desperdícios, mas depois não tive tempo de os meter no correio, por isso peço-vos que os venham cá buscar pessoalmente.
Então, cá vai o primeiro:

Ó Gi, leve lá o seu, fáxavor....


Grande Jóiaaaaaaa!! Este é para si!!



E este é para a Velvet, pois claro...


Mais outro para a Vera;


O da PresidentA lá tinha que ser diferente...

tal como o da Annie...


e este foi escolhido a dedo para o Carlos


Que me desculpem os outros vizinhos para quem não trouxe postalinhos, mas com o salário que a PresidentA me paga, não posso fazer milagres, ah, pois não, mas não se amofinem, eu lembrei-me de todos, ah, pois lembrei, e até fiquei triste de não arranjar nenhum Berlusconizito para o Salvo, mas que hei-de eu fazer, quem dá o que tem, a mais não é obrigado, ora não é??

terça-feira, 6 de outubro de 2009

estou de volta pró meu aconchego


foto minha - Praga 2009

É esta a porta que dá acesso ao blogobairro a que pertenço.
Daquela porta para cá, abre-se um pátio redondo e soalheiro, delimitado pelas casas de cada vizinho, todas com as suas próprias portas, escancaradas umas, ligeiramente encostadas, outras, com o fecho apenas no trinco, ainda outras, bastando empurrar um pouquinho para que, de novo, se abram.
Todas elas são coloridas, ladeadas por verdes trepadeiras e vasos com plantas, encimadas por canteiros de flores e cortinas brancas, que esvoaçam à corrente de ar, escapando-se pelos estores fora; no centro do pátio há um jardim, com árvores que dão sombra e servem de encosto a banquinhos de ferro forjado e a mesas recortadas, onde já foram escritas linhas que se querem partilhar.
Olha, a Pitanga lá está, de sorriso rasgado, a cumprimentar quem passa, 'Oi, meninos, tudo bem?? Eu 'tava morrendo por esse choupe de dois dedos de colarinho, são servidos??', já lá vou, já lá vou, quero saber notícias do rapaz, pois claro.
Bom dia, Si!, ouço uma voz de lá de cima. Ainda não a tinha visto, mas ela a mim viu logo, que nada lhe escapa, por detrás dos óculos escuros, do cimo daquela varanda, onde o sol de Outono bate em cheio. Bom dia, Patti, então hoje como é que eu me chamo?? Ainda não sei, ri-se, mas deve ser praí uma Goreti Mercedes! Logo leio, então, fico à espera!
Do lado oposto, ouve-se a música ritmada do bater de teclas, que subitamente é coberta por uma gargalhada fresca e sonora. A Gi e aquela imaginação galopante, não deixam a casa esmorecer, há sempre qualquer coisa de novo a sair de lá, que surpreende até os vizinhos mais assíduos. E lá fico eu cheia de curiosidade, e ela aguça-a ainda mais quando vem cá fora piscar-me o olho, num enigmático sorriso.
De cabeça no ar, a olhar para as varandas, nem dou por ela que quase me atropela, esta figura de chapéu, em quem, assim de repente, só distingo uma pêra grisalha, que me cumprimenta delicada mas fugazmente e segue o seu caminho. Reconheço o Carlos, que em passo acelerado lá vai para mais uma reportagem, a pé, como sempre faz todas as manhãs e que se desvia mesmo à última do esguio Mounty, chegado de mais uma noitada.
E, lá ao fundo, mora a Vera com a sua enorme família, na curva, a Luísa, mesmo ao lado, a Grande Jóia, mais o endiabrado do Mike, que nunca fala a sério, aqui à direita a Velvet, de estores corridos, o Salvo, que adora resmungar alto, o Pedro e a sua porta cor de laranja, o Paulo do gabinete cinzento, e tantos outros que todos os dias me fazem sorrir.
Estou quase a abrir a minha porta, já tenho a chave na mão, quando recebo uns borrifos na cabeça: Ei, cuidado!!, exclamo a rir; do lado esquerdo, rega-se abundantemente o tomilho, a menta e o hipericão da Violeta, que enrubesce pelo descuido. Não faz mal, descanso-a, assim arejo as ideias . E só então reparo que, na esquina mais próxima, há malas por desfazer, caixotes por abrir, sinais de mudança de mais um vizinho. Não sei quem será, nem de onde veio, mas só pode ser boa pessoa. Neste bairro só vive gente assim.

E então, vizinhança? Mostrem lá, qual é a porta da vossa casa??