Margarida também crescera. Não muito, porque a raça transmontana da família lhe deixara a herança de traços rudes, corpo entroncado e forte, cabelos pretos a sublinhar a cara cheia, olhos preto-azeitona e penugem nos antebraços. Habituada que estava ao rigor do frio, nos Invernos de neve, em que nem as lareiras todas acesas do seu solar ancestral conseguiam aquecer, aqueles ventos que entravam pelas portadas do quarto no Colégio eram brisas caprichosas, fonte de diversão para fazer esvoaçar os fios que tirava do ponto aberto no linho preso ao bastidor. A voz esganiçada de criança enrouquecera e o tom em que falava era sempre alto, a fazer lembrar a voz de comando do seu pai, quando orientava os trabalhos na quinta ou mandava os irmãos negociar o que a terra dava.
Sentou-se na cama, com o peito a arfar, tentando ordenar as ideias, naquela confusão de sentimentos que a agredia. Sara, expulsa. Sara, expulsa. Sara, expulsa. Martelava-lhe a cabeça, rodopiava-lhe na mente, fazia subir de novo o enjoo e a vertigem, tornava-lhe o aperto em nó cada vez mais fechado na boca do estômago. Deitou-se. Fechou os olhos com força. Pediu para desaparecer, mas ficou no mesmo sítio.
Amanheceu sem Margarida dormir nem um segundo. Por volta das 11 da noite, tinham batido de mansinho à porta, entrado sem fazer ruído e carregado quase tudo o que restava da presença de Sara naquele quarto. Para trás, ficara o terço de contas de rosa que a madrinha lhe trouxera de Fátima, abençoado pelo Papa Paulo VI, uma Bíblia Sagrada e uma imagem de Nossa Senhora com os Pastorinhos, que guardou debaixo do colchão, numa abertura do folhelho.
Nem sabe como é que esgotou os últimos dias antes das férias do Natal, perdida no meio de exercícios de estudo e de comportamento, a aparentar normalidade, para que ninguém se atrevesse a perguntar alguma coisa sobre Sara. Só sentiu foi alívio quando viu o carro do Sr. Jaime, o motorista e capataz da quinta, que a veio buscar, farta que estava daqueles olhares de interrogação, de condescedência ou de acusação, de algo que não compreendia, que desconhecia completamente. Ó Menina Guidinha, vá-se sentando, por favor, que eu tenho de ir ali dar um recado, sim? Recado? A quem, Sr. Jaime? É a mensalidade do Colégio que o seu paizinho mandou entregar ao Reitor, eu vou e venho num instantinho. E desapareceu pelo arco da porta principal.
Nota: Acaba amanhã!!!
18 comentários:
Isto cheira-me a Esturro!!!!
Meninas tão amigas, a tudo compartilharem e algo foi descoberto, mas vou esperar pelo teu veredicto.
Hoje ainda estou mais convencido da veracidade do comentário que fiz ontem...
Pois continuamos sem saber nada...
Mas digo-lhe agora depois de ler os dois posts, que podia ter feito tudo num só. Não é grande quanto me fez parecer.
Amanhã o grande dia.
António,
Veja lá se não deixou a panela de escape ao lume.....rsrsrsrs
É só mais um diazinho e pronto!
Carlos,
É melhor não dar sentenças antes de reunir todos os factos...
Prendinhas de maresia
Por acaso já me queimei hoje num escape, mas não foi de certeza praga tua!!!
Patti,
Estou como as meninas da história: ainda em tempo de experiências e descobertas...
Beijinhos e obrigado pela paciência!
Ó António,
Nem praga, nem sequer intenção, nem muito menos bruxedo ao acertar assim na mouche, credo!! Ponha lá um bocadinho de 'Queimax', que isso deve doer imenso!!
Prendinhas doridas
OS Macacos têm o rabo calejado não é?
Eu já tenho as mãos habituadas, já acaba por ser banal!
Ai Si ja estou cheia de comichoes com tanta curiosidade, querem ver que eu disse mal do professor e o homem nao tem culpa. Afinal porque e que a Sara foi explulsa??
Beijinhos .
Tenho 2 razões possíveis para e expulsão.
Será que vou acertar?
Beijinhos de mim para Si
Miepeee,
Amanhã esclarece-se tudo.
Só espero não desiludir as expectativas.
Se isso acontecer, aceito umas vergastadas de túlipas, desde que bata com jeitinho....rsrsrsrs
Prendinhas
P.S. Já receitei Queimax ao António, a si vai uma de Fenistil prás comichões, tá??
Velvet,
Diga lá quais são, ohhh, diga, madrinha!!
Se acertar, e como prémio, envio-lhe o 3º capítulo por mail, para saber o final antes de toda a gente, combinado???
P.S. É que agora quem está curiosa sou eu, daquilo que isto provoca na imaginação dos outros e que às vezes é tão diferente do cenário que imaginámos na nossa cabeça.....
Tenho acompanhado a história e aguardo o final com impaciência, mas estas esperas agradam-me: fazem-me lembrar quando era criança e os meus pais iam escondendo os presentes de Natal à medida que os compravam... eu sabia bem onde é que estavam, nunca foi segredo e, no entanto, nunca me passou pela cabeça ir bisbilhotar! Grande parte da alegria era a surpresa de abri-los no dia de Natal, nem sei do que gostava mais, se do ritual se dos presentes em si... Ainda hoje sou assim, adoro andar à procura de prendas para as pessoas de quem gosto, pensar no que elas desejam, no que irão achar, encontrar uma coisa que lhes agrade tanto como a mim.
Faltei ao "encontro" sobre educação...
O trabalho tem sido imenso, ando com uma falta de tempo incrível, mas percebi que o assunto vai regressar e cá estarei sem falta.
Esqueci-me de lhe agradecer a visita. Volte que será sempre bem-vinda.
Fada,
Obrigada pela presença e pelo comentário.
O assunto 'a educação dos nossos filhos' volta à baila na 6ª feira e o seu lugar já está marcado na mesa principal.
Beijinhos
P.S. Volto sim, aliás já a visitava regularmente, mas em silêncio...
Uhmmmm!
Amanhã está quase! :D
Ai, Gi...
Se depois disto tudo o final não agrada e sai tipo "montanha que pariu um rato", enfio-me pelo blog abaixo, antes que chovam ovinhos na minha 'mise'!!!
rsrsrsrsr
Bejinhos
Enviar um comentário