sexta-feira, 27 de agosto de 2010

aproveitem até à última


Este fim de semana voltam as temperaturas elevadas.

Com Agosto a terminar, o Verão vai-se despedindo em grande.

Deixo a portão do jardim entreaberto.

Refresquem-se, salpiquem-se, molhem-se, chapinem-se, encharquem-se, vá!

Tem graça e é de graça. 

Aproveitem. Até à última gota. 

Em fundo, Owl City, Fireflies 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quando o fogo bate à porta






(Fotos minhas, Agosto 2010)

todas as ajudas são poucas.
Vieram de Leça do Balio, S. Mamede de Infesta, Vila Meã, Marco de Canavezes, Penafiel e o helicóptero do Comando de Lisboa. 

Incansáveis
Abnegados
Voluntários

E nem os interesses, a loucura ou a pura maldade os faz arredar pé.

Em fundo, Ritual Fire Dance - New Symphony Orchestra of London

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

conversas secretas


Olha lá, ó Vento!
Que tens tu contra mim?
Porque m’ atiras teu lamento,
uivo gemido em frenesim?
Achas-te muito poderoso,
é, um colossal irascível,
só porque, mesmo furioso,
o teu rosto é invisível?
A isso chamo eu traição,
o não ver claramente,
quem nos ergue a mão,
num açoite permanente.
Levantas o chão em fúria,
tão rabugento e rugidor
pra logo vir com a lamúria
de que sopras por amor?
Não, não pode ser!
Apaixonado, meu amigo?
Eu vou lá poder crer,
que precisamente contigo
isso possa acontecer!!
Mas que paixão funesta
te dará a motivação
de vergar mato e floresta,
em tom de furacão?
Que telhas e telhados
te impedem de amar
se não são eles os culpados
nem te podem ajudar?
Ora diz-me lá, a ventar,
de quem tu gostas realmente,
mas diz-me devagar,
pra perceber exactamente…
Quem? Tu endoidaste?
Esse nome qu’inda agora
tu me segredaste,
saiu-te pela boca fora,
ou comigo brincaste?
Enamorado pela Lua,
que tão longe foi morar,
e tu, que loucura tua,
achas que lhe vais chegar?
Abranda, amigo Vento,
escusas de te esforçar,
volta a soprar lento,
que não a podes conquistar.
O Sol já a levou, cortês,
num cruzar de raios tal,
que uma filha logo lhe fez
chamada Aurora, a Boreal.
Se queres, então, desabafar
o desgosto de amor imenso
em vez de raiva soprar
eu apelo ao teu bom senso:
chora apenas chuva,
nesse teu lamentar,
e clareia a nuvem turva,
que tão bem te faz chorar!

(Post publicado em 02 de Fevereiro de 2009)

Em fundo, Maroon 5 - Secret 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

patchwork


Nas linhas brancas dos alinhavos, revia as prioridades da sua vida. A espaços regulares e muito direitos, esboçava os passos que dava em cada dia, primeiro com o giz, à laia de ensaio, depois com a tesoura que lhe definia os limites, a seguir com a agulha, que lhe juntava provisoriamente avessos e enviuzados para ver se se entendiam, e, só no fim, com a máquina de pedal, que casava definitivamente as decisões do figurino em ligar fazendas, entretelas, fitas de nastro, forros de cetim e ombreiras.
Jacinto era, portanto, um homem pacato e ponderado, filho único do único alfaiate dos Pousos, aldeia onde nascera 56 anos antes. Do pai, herdara a profissão e a loja, da mãe, o feitio à medida de qualquer moça casadoira que se quisesse perder naqueles olhos castanhos avelã, iguais aos galões que pregava nos fatos de linho.
Mas os anos foram passando, e nenhuma quis coser a sua vida à dele, nem ele nunca se encantou com os modelos da terra, julgados e bem medidos pela bitola que tinha dentro da cabeça. Os pais desapareceram e ele ficou, sózinho, fielmente unido às costuras da clientela.
Por alturas do Outono, precisamente quando o caixeiro-viajante andava numa lufa-lufa, no leva e traz das novidades da estação, chegou-lhe aos ouvidos que iria chegar, em breve, a filha emigrada dos donos da retrosaria, que tinha abalado para França logo em menininha. Recordava-se, muito vagamente, de uma cachopa de tranças bem apertadas em dois grandes laçarotes de cetim rosado, chuleado à mão nas pontas, para não desfiar, e do rosto, só conservava a imagem de dois botões negros e grandes, forrados com pestanas espessas.
Foi, por isso, com surpresa, que numa quinta-feira à tarde, viu passar uma figura alta, dentro de um vestido de algodão lilás, primorosamente debruado a nastro de florinhas minúsculas, decote quadrado e manga três quartos. As pinças do corpete, perfeitamente alinhadas com o encaixe do peito generoso, sobressaíam elegância, e a saia rodada, em godés de guarda-chuva, tinha a baínha logo abaixo do joelho, para deixar à mostra a medida certa de umas pernas encamisadas numas meias de seda transparente e sapatos a condizer.
Quase em câmara lenta, desfilou defronte da sua loja, com um sorriso estampado na cara, em contraponto ao recorte liso de um par de lábios aveludados, estacou à porta e deixou sair um gritinho de alegria. Jacintô!!, exclamou, estás na mesma!! Não te lembrras de mim?? Sou a Suzete, crriatura, o que eu chorrei por toi, quando me fui, chérrri!!
Naquele momento, Jacinto sentiu-se como que picado por milhares de alfinetes, atordoado como se o ferro de engomar lhe tivesse caído em cima da cabeça! Como pudera esquecer? Como pudera não lembrar a carteira de escola atrás da dela, e o que ele apreciava o ponto cheio das letras 'S.M.' bordadas no seu bibe? Suzete Marrazes....há quanto tempo!!!
Rapidamente, ela pô-lo a par da sua vida, como modista de luxo das Madames em Paris, pondo em prática o que aprendera na Mestra que a acolheu à chegada de Portugal. Falou-lhe da riqueza dos tecidos, das cores que lhe traziam do estrangeiro, das linhas de seda, das máquinas de corte que inaugurara no novo atelier, de tudo, tudo e também das saudades que lhe ficaram no peito ao despedir-se dos Pousos. Voltava para ficar, queria assentar os vincos da sua existência.
Escusado será dizer, que não tardou muito a que Jacinto e Suzete juntassem os trapinhos e unissem as suas vidas, afinal, eram um para o outro como colchetes e nunca mais se desapertaram, caminhando lado a lado pelas pregas da vida em felicidade reforçada em cada ponto.

Perguntei-lhes como quereriam que terminasse de contar a sua história.

Foi-me dito que lhe desse um fecho de correr.


(Post publicado em 18 de Fevereiro de 2009)




Em fundo, Chris Norman - Needles and Pins

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

olhos nos olhos



olhos nos olhos, que tão bem conheço

cúmplices de histórias por inventar

sinceros e sérios como eu te peço

em mais do que um tempo do verbo amar




Em fundo,  Ben Harper  - In your eyes