No Colégio de S. Gonçalo, a vida de Margarida corria feliz. Não tinha dificuldades nos estudos, fazia amigos com facilidade e mesmo a separação da família, imposta pelo internato, já não lhe custava tanto. Ao fim de 3 anos, já se tinha habituado a embalar os meses de Setembro a Junho, em caixas forradas e organizadas, meticulosamente identificadas e separadas por tamanhos, conteúdos, prioridades e necessidades e as malas da roupa fazia-as e desfazia-as com desvelo, numa quase obssessiva divisão, primeiro por estações, dentro das estações por espessuras de tecidos, dentro dos tecidos por cores, dentro das cores por acessórios a condizer, pulseiras, colares, aneis e fitas para o cabelo.
Os cadernos, com João de Deus na capa, eram todos côr de rosa, identificados e escritos a tinta azul-anil, numa caligrafia perfeita, sem erros nem borrões e nas aulas, sentava-se sempre na fila da frente, ao lado da rapariga que, desde o seu primeiro ano no colégio, também partilhava o mesmo quarto, algumas roupas e sobretudo as confidências.
Sara era exactamente 3 meses mais nova; no dia em que se despediram dos pais, pela primeira vez na vida, e entraram naquele que iria ser o seu refúgio e local de estudo dos próximos 6 anos, deixara-se cair nos braços de Margarida, consumida num choro convulsivo e incontrolável que só acabou de madrugada. Antes do sol nascer, decidiram que ficariam amigas para sempre e riram-se às gargalhadas das suas próprias figuras, uma tão alta de cabeleira farta e loira, tão aninhada no colo da outra, rechonchuda, morena e baixinha.
O primeiro período estava quase a acabar, quando o Professor Morais mandou sair a turma toda da sala e pediu a Margarida para ficar. Com uma voz grave e ar circunspecto, disse-lhe que Sara iria ser expulsa do colégio, por razões que não poderia revelar, e que contaria com a sua discreção na altura em que, a coberto da noite, fossem buscar as malas e os pertences de maior volume e se evitassem as perguntas e os olhares curiosos.
Atordoada e incrédula, respondeu a tudo que sim, os livros e os cadernos deixou-os esquecidos na sala e disparou a correr para o dormitório onde vomitou pequeno-almoço, lanche da manhã e almoço duma vez só.
Em casa, Sara sempre fora uma miúda tímida e desengonçada. Alta e magra demais, encolhia para a frente os ombros para disfarçar o peito grande que desde os 9 anos lhe tornava a silhueta desproporcional. Na escola pública, onde aprendeu as primeiras letras, aprendeu também que as crianças podem ser cruéis e, todos os dias, começou a ter crises de histeria que lhe subiam a febre, provocavam cãimbras na barriga e enjoos que a impediam de comer e a tornavam ainda mais magra. A conselho do médico de família, e com algum sacrifício dos pais, acabou por se matricular no Colégio de S. Gonçalo, só para raparigas, muito recomendado pelo pároco que a baptizara.
E foi lá que as suas formas se arredondaram, que o loiro do seu cabelo ganhou mais brilho e que o rosto magro ganhou alguma cor, sobretudo pelo ar fresco e sol que as aulas de Ginástica obrigavam a apanhar, no ringue das traseiras do edifício.
Nota: Continua amanhã!!
10 comentários:
Mau Maria, ai o senhor professor...
(aguardando o episódio de amanhã)
Pois!!!Estou curioso com o motivo da expulsão.
Talvez algo que já faz parte dos dias de hoje com naturalidade.
Amnaha continuo a leitura, mas esse professor nao me cheira nada bem !
Si,
Cá para mim, devias ter deixado o Post na íntegra.
Põe lá o resto ao fim da tarde!... LOL
Tretices curiosas para Si.
http://tretas-da-vida.blogs.sapo.pt/
Patti,
Será qui o Professorr Morais é o mau da fita?? Será qui Margarida terá o mesmo djistino dji Sara?? Não perca, o prôximo epidódio, amanhâ, aqui, à mesma hora, no mesmo local!!
António,
Espero que a curiosidade se mantenha para aguentar mais dois dias....rsrsrsr
Obrigada pela paciência
Miepeee,
Ó coitado! E eu que pensava que tinha inventado uma personagem limpinha, que tomasse banho e tudo...Olha a minha falha!!!
Beijinhos kilométricos.
Tretoso,
Vá lá, um pouquinho de paciência, SÓ faltam dois dias...
E depois...eu avisei, né??? Foi por sua conta e risco...
Prendinhas da treta
Cá p'ra mim o prof Morais não tem culpas no cartório. A Sara é que não deve ser tão coistadinha como parece à primeira vista. Aguardmos então pr quinta-feira, para saber o epílogo.
Cá estou com toda a calma esperando a continuação.
Algo me diz que sei a causa da expulsão.
É isto que é giro nas histórias em partes: é que pomo-nos a imaginar o final.
Beijinhos de mim para Si
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