Não foi um sonho, nem um pesadelo. Talvez um instinto, um sexto sentido, que se passeou pela mente, displicente, insinuador. Não quis aceitá-lo, mas tão pouco sabia como rejeitá-lo, quando a insistência se tornou evidente, um teimoso pensamento, sentimento avassalador, desconcertante clarividência, que dela se apossou.
Pensou e repensou. As imagens fluíam, em veloz catadupa, num instante fugiam, montadas na garupa de um qualquer corcel, que as levava adiante, dando lugar a mais uma, que, sem querer, voltava mais voltas dum alucinante carrocel.
Pensou e repensou. As imagens fluíam, em veloz catadupa, num instante fugiam, montadas na garupa de um qualquer corcel, que as levava adiante, dando lugar a mais uma, que, sem querer, voltava mais voltas dum alucinante carrocel.
Presa, naquela roda viva, revoltava-se e não queria. Não pretendia saber, o que tantas e tantas vezes, ouvira dizer que não se sabia. Não queria ver as faces iradas, as retinas raiadas dos poderosos e vingativos, que não hesitariam em tornar efectivos, castigos monstruosos pela ousadia. Fechou os olhos e, ao nascer do dia, fez um voto de clausura, calou-se para a vida, numa severa censura e dura penitência, da consequência sofrida por ser recebida no núcleo restrito, daqueles que às vezes, num acaso fortuito, ficaram sabedores dos segredos dos Deuses.
17 comentários:
Nunca gostei de clausuras.
Sei lá, Si, este post trouxe-me sentimentos tão estranhos e intimistas que devem ser fruto da clarividência com que, certos bloggers, postam assuntos que ajudam a outros a esclarecer certos centimentos que interiorizam.
É por isso que há blogues, para mim, imperdíveis.
Beijinhos.
"Não pretendia saber, o que tantas e tantas vezes, ouvira dizer que não se sabia" .. por vezes, uma verdadeira maldição ..
Gostei :)
Ah, Si! Eu tinha tanto o que dizer!
beijos e boa tarde!
Sempre achei que só gente muito especial poderia fazer este voto de clausura.
Tinham mesmo que ser... sabedores dos segredos dos Deuses.
Eu nem num quarto posso estar fechada.
Também deve ter sido tocada por um deus especial para escrever tão lindo texto.
Beijinhos de mim para Si
é bom voltar ao teu blog. Gosto daqui.
maurizio
Clausuras nao sao para mim.
Beijinho.
Este é um post muito íntimo, Si. Pelo menos é o que me parece e corrija-me se estou enganada.
É o que eu sinto de todas as vezes que já o li, desde a manhã.
E se assim não fôr, temos um problema, ou melhor eu tenho um problema.
É que interiorizei de tal maneira essa noção de post pessoal e íntimo, que não me consigo desligar, abstrair e comentar imparcialmente, dando largas à 'Louca da Casa', como gosto de fazer, quer nos meus posts, quer nos comments.
Posso no entanto dizer-lhe que apesar de odiar clausuras, como uma sagitariana que se preze, até era capaz de começar a simpatizar com elas, depois destas palavras, se não soubesse o que ela – a tal da clausura- significa!
Beijinho.
Patti,
É curioso como, de facto, quando escrevemos, a nossa cabeça está num sítio tão diferente daquele em que fica a cabeça dos outros, quando lêem.
Achei o seu comentário interessantíssimo e muito sensível, embora, na verdade, eu não tenha feito mais do que olhar para uma imagem e soltar a imaginação à volta dela, misturando, pelo meio, alguma coisa parecida com a história da Irmã Lúcia e aquilo que eu reflicto, a acreditar nos testemunhos dos Pastorinhos, que possa ter acontecido na vida dela, como consequência das suas visões.
É isto que um blog tem de fantástico, tal como uma peça de teatro para um actor: o retorno do público é imediato e pode ser surpreendente, alterando, muitas vezes, o rumo da nossa própria perspectiva!
Beijinhos e obrigada
Então, ainda bem que a sua clausura só tem isso mesmo de pessoal e íntimo, uma hipotética subjectividade.
É-me, mesmo assim muito complicado comentar esse tipo de prisão, assim como temas acerca da morte.
Odeio clausuras, mas muitas vezes a clausura está apenas dentro de nós, porque nos enredamos em teias de preconceitos que nos coarctam a possibilidade de agir e pensar livremente.
SI e PATTI, o diálogo entre as duas me fez ver o texto como eu não havia lido. Não foi para esse lado que levei, e nem por um momento ocorreu-me lembrar da Irmã Lucia e nem das apararições de Fátima (a qual sou devota). Viu-o por um lado extremamente espiritual e que já me foi tão familiar.
Mais uma vez digo que um blog pode ser,sim, levado a sério, quando é escrito a sério e por pessoas sensíveis e que nos ensinam a pensar e nos deixam (sem clausuras)com a possibilidade de atuar e interagir, explicando a nossa interpretação, como é feito aqui.
Que bom que assim é!
Obrigada, Si, e beijinhos neste dia indeciso no tempo.
Pitanga,
É fantástico, sim, poder partilhar letras embaraçadas com quem as lê e, todos os dias, lermos outros e sermos obrigados a reflectir sobre coisas que, de outro modo, não se despoletariam na nossa mente.
Por alguma razão se criam empatias virtuais.....
Beijinhos
Si, também pensei que estaria a escrever sugestionada pela imagem, porque já pensei o mesmo no seu «post» anterior. E a imagem sugere, de facto, essa ideia de vendaval e de angústia na opção entre o conhecimento das terríveis verdades guardadas no Olimpo e a santa ignorância que é apanágio da nossa condição humana e terrena. Gosto sempre de apreciar «desenvolvimentos» pessoais sobre imagens, Si, e gosto muito de ler os seus. :-)
Faço um paralelismo, na minha interpretação deste post, muito próprio, muito meu, embora com rumo diferente.
Beijinhos.
Errata: sentimentos. Valha-me Deus, Nossa Senhora de Fátima, a Irmã Lúcia e os restantes pastorinhos.
Voltando ao post: quando o li veio-me logo a imagem de Lúcia e dos primos pastorinhos; quando era mias pequena e infinitamente mais crente adorei ler os livrinhos sobre a vida deles que a minha mãe tinha comprado no Santuário e achava que eu era a pior das crianças deste Mundo.
Também tenho uma Tia Freira e assisti às negociações persuasivas e dissuassoras que houve no Conselho Familiar para que ela não se enclausurasse como era seu propósito.
É uma freira espectacular, daquelas bem alegres e divertidas; daquelas que agrega pessoas à sua volta.
Sabe o que pensei quando li este seu post, Si? Em alguém a espiar o Concílio dos Deuses d'Os Lusíadas e a ser obrigado para todo o sempre a viver com o Monstrengo como castigo por tamanha ousadia. Já viu as leituras a que deu origem?
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