A paixão que os assolava era devastadora.
Mimi e Pierre sentiam aquele sentimento à flor da pele, no fundo das suas almas, em corações trespassados pela violência do amor.
De mãos dadas e corpos encostados, percorriam a Quai Branly a passo rápido, partilhando suores e transpirações, ansiedades e batimentos cardíacos acelerados, numa corrida contra o tempo, aquele que nunca mais chegava, aquele em que finalmente os fizesse chegados ao destino.
Subiram rapidamente as escadas de madeira carcomida que os levavam às águas furtadas de um velho apartamento do 7ème arrondissement da Rue Jean Rey, cúmplice silencioso de suspiros profundos. 'Mon amour, ma chérie...' 'Ah, Pierre, je t'aime a la follie! Prend mon corps dans tes bras...!!' 'Oui, Mimi, oui, je te veux!'
Presa pela cintura, num abraço estreito, vis a vis, Mimi abandonou-se no ritmo do corpo de Pierre, colados os dois, deslizando pela sala num acto intimista, louco e embalado, em passos cruzados de pernas descobertas em rendado, dados com certeza, com firmeza, com leveza insinuante, et un et deux et trois, geme a concertina, dedilhada em crescendo, et quatre et cinq et six, volteia o tronco, nas palmas das mãos, et six et sept et huit, sai um gesto dengoso, que percorre a nuca, num pas de deux explosivo, os dois e a velha grafonola, dançando como se fossem morrer a seguir, como se não houvesse mais amanhã, como se aquele fosse o seu último Tango em Paris.
16 comentários:
Si, de fato trocar juras de amor em frances deve ser muito mais excitante! O gênero Belle de Jour! O volteio do tango e ao fundo Astor Piazzolla (não gosto de tudo dele)mas admiro a orquestra que aparece neste vídeo. Quanto talento! Piano, violino, violão- celo e o bandoleon do maestro.
Parece que os grandes romances estão sempre marcados por dramas e músicas doridas.
Jorge Amado em Dona Flor e Seus Dois Maridos disse: "A felicidade não tem história".
Será?
Obrigada por ires lá na árvore me chamar. Eu viria de todo o jeito.
Bonjour, Madame
Sou um pé de chumbo...
Espero que este casal leve até ao fim a máxima "São precisos dois para o tango" e ainda se encntrem em pas de deux pela vida, sem terem dado tanga um ao outro ou sem exclamarem: O tango do amor, afinal, é uma tanga,despiu o meu coração e deixou-o de tanga.
Ai credo!
Como eu adoro ou adorava dançar um TANGO é que agora as cordas dos sapatos já estão um bocado ferrujentas!!!
Ao som e ritmo do Tango e com declarações de amor em francês, das duas uma: ou vão ser felizes para sempre, ou vai tudo acabar à estalada assim que amanheça. Eu conheço-os(as), eu conheço-os(as)!!!.
Eh lá!
Não me diga que o Ele da Velvet em vez de a ouvir a ela, ouviu-a foi a Si?
Ora que paixão tão avassaladora temos aqui!
Carlos,
Não seja 'mocho' agoirento, credo....!!
O Sr. Carlos anda muito PRESO de imaginação e já ontem destratou o meu post do Inverno.
Deve ser dos aloquetes!
Patti,
Ahahaha,
Eu não tenho nada a ver com este assunto! É entre a Mimi e o Pierre, que entre homem e mulher, não meto a colher!!!
E, também, eu só os vi a dançar tango, mais nadinha de nada, cruzes!
Si,
está cá tudo o que o Tango nos inspira.
Músiquinha mais sensual que nos transporta para outros palcos e que tão bem retratou.
Beijinhos de mim para Si
Deste bufete não me é permitido visualizar o bídio nem apreciar a melodia rítmica e afrodisíaca do Piazzolla. Depois de tanto franciú vou mas é manjer um croissant e emprurrá-lo com um tango (cerveja com groselha).
Beijo
Paulo,
Que pena, não ver o vídeo, com o Piazzolla a dedilhar na concertina o Libertango!!
Mas, pronto, vá lá, será bem substituído por esse 'tango' com croissant. Eu fico-me mais pelo chá-chá-chá quentinho ou, no calor do ritmo do que vai emborcar, um panachézito...
A vizinha dança ou já tem par?
Adoro tango! Mas adoro mesmo. Ainda no outro dia disse ao meu pai que um dos meus desgostos foi ele não me ter ensinado a dançar - ele dançava-o maravilhosamente! Ficou cheio de pena, segundo ele nunca dei a entender que gostaria que ele me ensinasse... Agora está demasiado doente para poder fazê-lo.
Hum... Ritmo e sensualidade, num bom texto, que maravilha.
Beijos.
Belos tempos, da adolescência, em que nas noites de ceia de Natal, depois da meia-noite, fazíamos bailes até ás tantas, em casa dos padrinhos do meu irmão mais novo, miúdo, então, e o tangoera sempre a dança dos mais velhos, que puxavam-me por um braço e toca a dar um pé de tango.
E eu até que tinha um jeitaço!
Há quanto tempo já não danço.
Coincidência, uma sobrinha que vive no Porto, anda numas danças de salão. Um dia destes veio aqui a casa e pôs-se a dançar o tango comigo. Verifiquei que já não tinha grande jeito.
Mas hei-de recordar.
Um beijinho
cantinhodacasa
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