domingo, 7 de dezembro de 2008

ponto de (Si)tuação # 8

Querido Diário,

Pouco a pouco, surgem mais recordações que gosto de deixar por aqui, um registo, não só das minhas coisas, mas também de pessoas, bocados de um passado que também é meu.
Lembras-te daquele avô de que te falei na semana passada?
Sim, o farmacêutico, o pai da minha mãe.
Sabes que ele além de aliviar as dores físicas também aliviava as dores da alma?
É verdade. O meu avô era um escritor. Pequenino, modesto, só conhecido da família, com muitos textos, todos em verso, escritos em milhares de papeis que a vida se encarregou de fazer desaparecer, porque tudo servia para escrevinhar, fazer rimar e até criticar, com humor mordaz e ironia.
Era assim que enriquecia as reuniões de família, com declamações, ora de fazer rir, ora de fazer chorar, ora até de cantar, quando em uníssono, a avó se juntava a ele no piano que tão bem tocava.
Pois, a avó....
A mulher que ele mais amou na vida, que endeusava na poesia, nas acções e no dia a dia e que tão cedo lhe foi roubada, por um tumor, maligno invejoso da felicidade que viviam os dois.
Uma mulher linda, de olhos azuis água, meiga e que lhe deu 3 filhos, dos quais, só 2 sobreviveram. Um rapaz e uma rapariga.
Já a companheira de toda a vida tinha desaparecido, quando os filhos casaram, e lhe deram os primeiros netos. O rapaz deu-lhe uma rapariga e a rapariga deu-lhe um rapaz, numa contradição de equilíbrio que a Natureza tantas vezes nos oferece.
E foi em honra a eles, que o meu avô escreveu o primeiro e único livro da sua existência, edição de autor, claro, porque a ambição nunca foi a de ser reconhecido por isso, mas sim a de lhes dar uma prenda para que o recordassem depois da morte. Foram feitos 25 exemplares, apenas, editados em 1966, sob o nome de 'Histórias do Passarinho Azul e da Menina Lambareira', na colecção 'Histórias do Avôzinho', ilustradas por uma prima que tinha imenso talento para desenhar.
42 anos passados, não tenho nenhum desses exemplares na minha posse.
Mas há quem tenha.
Surpreendentemente, descobri que este livro faz parte do espólio da Bibiloteca Nacional de Portugal, onde estão registados 2 volumes.




Este Avôzinho era meu, mas, agora, ficou a ser de quem o quiser ler.

Como diria uma vizinha aqui do Bairro, há coisas fantásticas, não há Querido Diário??

Até Domingo!

Beijinhos,
Si



12 comentários:

Filoxera disse...

É verdade. E eu fiquei, há meses, de lágrima ao canto do olho ao encontrar, na Biblioteca da Sociedade de Geografia, uma referência ao trabalho de um tio meu.
Beijos.

BlueVelvet disse...

Não só há coisas fantásticas, como agora já sabemos onde foi a vizinha buscar a "queda" para as escritas.
Parabéns à neta pelo avô.
Beijinhos de mim para Si

Ps: adorei o presentinho a passear-se por aqui. Está a ficar uma expert:)

1/4 de Fada disse...

Parafraseando a nossa vizinha, há avôs fantáticos, realmente! Sabe que o meu avô materno era um contador de histórias incrível? Até os meus filhos, que não o conheceram, ouviram as histórias dele, contadas por mim e pela minha mãe e já têm citado frases dele, tal é a influência que ele exerce ainda hoje...
Somos pessoas de sorte.

1/4 de Fada disse...

E não é que me esqueci de lhe dizer como achei bonito o visual natalício do blog?

Gi disse...

Não deu para abrir o sítio da bibilioteca Nacional, mas já percebi a parte da doçaria que abunda pelo poste, sua menina lambareira! ;)

Si disse...

Filoxera,
Sentimo-nos tão pequeninos no meio desta tão poderosa corrente de informação, não é?
É mesmo fantástico.....

Si disse...

Velvet,
A influência directa não poderá ser assim tanta, porque era muito pequena quando o meu avô faleceu. Só se em vez de glóbulos vermelhos, me correrem nas veias 'ás', 'bês', 'cês'....

P.S. Expert, expert, não direi, mas, digamos que é menos cansativo decorar o blog do que decorar a casa....rrsrsrs

Si disse...

Fada,
Eu também pouco ou nada me lembro do meu avô, como indivíduo. Agora, as recordações dele que a minha mãe me passou ao longo da vida, foram construindo a sua história, as suas qualidades e também os seus defeitos, o que, na minha mente, o fez pessoa completa.

P.S. Obrigada pelo elogio, mas a verdade é que me atirei ao google depois de ter ficado vidrada no cabeçalho de um blog chamado 'Um Quarto de Fadas'...conhece??

Si disse...

Gi,
De facto, sou lambareira, mas a menina da história não sou eu, é a minha prima mais velha, que tinha o hábito de rapinar o conteúdo todo de um açucareiro de louça!!
Eu não chego a tanto... a não ser que seja por chocolate negro, que os sódótores até dizem que faz muito bem à saúde.....rssrsrsr

Patti disse...

Que maravilha Si!
Eu adoro tudo o que são histórias de avós. Os meus também eram magníficos, pessoas iluminadas que amavam os netos da mesma forma que já tinham amado os filhos e eu só entendo ser avô ou avó dessa forma.

O meu não escrevia, mas contava-me todas as noites, ao seu colo, histórias do campo, de cobras, cães e coelhos, ladrões de galinhas e velhas bruxas.

Quanto ao seu maravilhoso e apaixonado avô, ainda bem que descobriu o livro dele. Já tentou saber, se como herdeira, poderá obter uma cópia?

Parabéns pelo 'desabafo'.

Si disse...

Patti,
Por acaso, nunca tinha pensado nisso, tão surpreendida fiquei com a descoberta; só me lembrei de que o poderia requisitar, e apenas para o ler, dentro da Biblioteca.
Mas, já que me deu essa ideia, vou informar-me e tentar.
Quanto mais não seja, fico na mesma, não é?
Obrigada pela ideia.
Beijinhos

1/4 de Fada disse...

Si, vou contar-lhe o segredo do cabeçalho do Quarto de Fadas - foi obra da minha filha, que é uma mestra com o Photoshop! Também foi ela que fez o presente de Natal que pus hoje lá no blog, que tem como legenda "Da Bi". A minha filha estraga-me com mimos e não se conforma com o facto de eu, nos últimos anos, não ligar tanto ao Natal como antes...