quarta-feira, 21 de outubro de 2009

coisas do outro mundo


Gostava bem dele, eu, quando nos escapávamos das aulas, principalmente naqueles dias em que o Outono começava a esfriar as cabeças de vento dos nossos doze, treze anos, tão cheias ainda do sol, areia e mar com que nos alambazávamos em três meses de férias.
Sorrisos cúmplices, bilhetinhos trocados e, ala, que o tiro a Matemática marcava a partida, driblava-se a atenção da Visgarolha, que, coitada, sofria de estrabismo, mais os bigodes arrepiados do Director Nini Pé de Salsa, que se rebolava pelos corredores, e, pronto, já chegámos, entre risos abafados e respirações entrecortadas pela corrida final, lá nos atirávamos para o chão coberto de folhas mortas, vitoriosos por mais uma balda.
O Ruço já lá tinha escondida a guitarra.
Embrulhava-a numa saca de sarapilheira, desviada das batatas para semente, no sótão do avô Luís, e encaixava-a no oco de um pinheiro velho, seco já da sangria da resina, que, ultimamente, albergava também uma desengonçada cadeira de praia, que a Tia Guilhermina deixara de usar. Para eu não me sujar, dizia ele, e espantada que eu ficava a pensar como é que aquela loira cabeça se teria lembrado de tal pormenor.
E ficávamos.
Horas esquecidas a gargalhar, a tocar e a cantar, a uma e duas vozes, a calar melros enfurecidos, a inventar letras e músicas, a experimentar interpretações de melodias já conhecidas, a abandonarmos o mundo por uma paixão da alma.

30 comentários:

salvoconduto disse...

Pois é vizinha, desde aí o leãozinho nunca mais foi o mesmo. É vê-lo todos os fins de semana numa amargura tal que agora diz que é do relvado, que não o deixam tocar como no tempo dos cinco violinos. Deve ser das saudades.

continuando assim... disse...

é tão bom recordar

Gi disse...

Deliciosa e louca juventude, não é?

Sónia Costa disse...

Mas que história! Fiquei enternecida. Acho que já não se fazem histórias como estas nos dias de hoje.

De dentro pra fora disse...

Ai a menina...eu que pensava que era bem comportadinha, eheh
foi coisa que nunca fiz, baldar-me ás aulas, cá pra nós também não podia, uma das irmãs mais velhas trabalhava na dita escola e como tal já ves...control apertado, se bem que depois das aulas sempre se arranjav alguma coisa
bons tempos

pedro oliveira disse...

Umas das minhas músicas preferidas e uma das palvras que mais goto de ler: gargalhar.
bjs

Rosa dos Ventos disse...

Belas recordações!
Também gosto dessa canção mas já me apanhou mais à frente na vida! :-))

Abraço

ANTONIO SARAMAGO disse...

SEMPRE SE DISSE QUE DE ONDE NÃO SE ESPERA É QUE ELAS SAEM.
Rebolar nas folhas, ir para a toca da oliveira e que mais, para além de tocar e cantar?
Não consigo cumprir as promessas feitas e como a Sra SI, foi apanhada na ratoeira, cá estou a opinar, secalhar armado em inconveniente, mas gósto de contos que marcam a infancia, quando os mesmos são prazer e não de tristeza.

Luísa A. disse...

Também tenho destes momentos na minha memória, Si. Sobre «leõezinhos» é que a história é ligeiramente diferente. Mais ligada a verdes e lagartos. Essa música, de que gosto imenso, tem, para mim, uma já insuperável associação desportiva. :-D

Si disse...

Aos meus queridos comentadores:
lamento desiludi-los, mas a história é imaginada, tal como indica a etiqueta 'De dentro de Si'.
Tem inspiração em factos reais - como a ligação à música e às guitarras - mas a balda às aulas nunca o foi.
Considerem pois este texto como o desabafo de uma frustração juvenil de nunca ter dado 'tiros' nem, muito menos, ter acertado num leãozinho....;))

Patti disse...

É, é! Deve ser, deve!
Guitarradas, cigarradas, cantorias por esses campo afora, flores silvestres nos cabelos, melodias trauteadas e depois a culpa é dos melros... sim Sinhora!

Si disse...

Patti,
Não me diga que ficou com inveja?? ;D

Patti disse...

Je?

Je é loura e aquelas flores nos cabelos eram todinhas para mim! E o tigre ou o leopardo ou lá o que era também!
Humpf!

Si disse...

Loura, hein?
E de óculos escuros, suponho....
Atente bem nestas palavras, Patti, nunca se sabe o que poderá daí advir................

Patti disse...

Esta agora escapou-se-me!

Si disse...

Mistérios, Patti, mistérios da blogosfera.................................................................................................................................

Patti disse...

Cusquices.

Si disse...

E eu alguma vez perco tempo com cusquices????
Ó Sra. PresidentA, olhe que isso nem parece seu!!
As únicas cusquices a que eu atento são aquelas que lhe enchem os bolsos!!

Patti disse...

Não há cá mais conversa, quando a coisa se mete pelo subentendido, acabou-se!

Si disse...

Ahahahahahaha,
Não são subentendidos, apenas ainda não entendidos, porque ainda não chegou o tempo certo!!
Não se preocupe, estes mal entendidos vão, em breve, ser esclarecidos e muito bem esclarecidos, aahahahahah

Patti disse...

Ensandeceu a minha assistentA. 'Tadita, deve ter sido com as pintas da onça ou do lince...

Si disse...

Ai, não me faça rir mais ou o jantar nem desce!!
Um dia destes hei-de lhe provar o meu completo juízo e a mais eficaz e eficiente assumpção das funções no BB..

Patti disse...

Olha, agora anda-me à procura de protagonismo no Big Brother!

Que saloiada!

Si disse...

BB = BlogoBairro, sinhora, ai que distraída que ela anda, já nem reconhece a sua própria sigla....

P.S. Aconselho uns óculos escuros com um pouco de graduação, para ver se a coisa melhora, tsk,tsk,tsk

Patti disse...

Sim filha!
Sempre que a malta começa a falar por siglas, é porque já anda metida em coisas do submundo...

cristina ribeiro disse...

Não é bem como dizia a canção « Recordar é Viver », mas que às vezes nos arranca uns sorrizozinhos, lá isso arranca :)

Anónimo disse...

O leãozinho anda de juba caída,está mesmo a precisar de uma cura de rejuvenescimento.

Laetitia disse...

Há tanto tempo que não lia os teus textos e tantas eram as saudades.

Beijos

Sunshine disse...

estava preocupada com a balda às aulas e ainda por cima às de Matemática;D. Fiquei descançada com o esclarecimento. É que estava já a ver-me a passar um raspanete.
Texto delicioso, como sempre.
beijinhos com raios de sol

Carlota e a Turmalina disse...

Hummm...eu lá pelo colegial matava aula às vezes...e nessas escapadas muito bem calculadas, com hora marcada para voltar, a gente fumava.Na época era moda...coisa de intelectual...e de mulher bem resolvida e independente.Acho graça da grande mulher que eu era aos 16 anos.Só tinha tamanho, mas juízo, não muito.E sempre tinha no grupo alguém que tocasse violão.Sim, e essa música era um clássico da época....rsss....
Adorei a lembrança!!!