Gostava bem dele, eu, quando nos escapávamos das aulas, principalmente naqueles dias em que o Outono começava a esfriar as cabeças de vento dos nossos doze, treze anos, tão cheias ainda do sol, areia e mar com que nos alambazávamos em três meses de férias.
Sorrisos cúmplices, bilhetinhos trocados e, ala, que o tiro a Matemática marcava a partida, driblava-se a atenção da Visgarolha, que, coitada, sofria de estrabismo, mais os bigodes arrepiados do Director Nini Pé de Salsa, que se rebolava pelos corredores, e, pronto, já chegámos, entre risos abafados e respirações entrecortadas pela corrida final, lá nos atirávamos para o chão coberto de folhas mortas, vitoriosos por mais uma balda.
O Ruço já lá tinha escondida a guitarra.
Embrulhava-a numa saca de sarapilheira, desviada das batatas para semente, no sótão do avô Luís, e encaixava-a no oco de um pinheiro velho, seco já da sangria da resina, que, ultimamente, albergava também uma desengonçada cadeira de praia, que a Tia Guilhermina deixara de usar. Para eu não me sujar, dizia ele, e espantada que eu ficava a pensar como é que aquela loira cabeça se teria lembrado de tal pormenor.
E ficávamos.
Horas esquecidas a gargalhar, a tocar e a cantar, a uma e duas vozes, a calar melros enfurecidos, a inventar letras e músicas, a experimentar interpretações de melodias já conhecidas, a abandonarmos o mundo por uma paixão da alma.
E tudo parece que foi ontem e eu me despedia dele assim: Gosto muito de te ver, Leãozinho, caminhando sob o sol. Gosto muito de você, Leãozinho....
30 comentários:
Pois é vizinha, desde aí o leãozinho nunca mais foi o mesmo. É vê-lo todos os fins de semana numa amargura tal que agora diz que é do relvado, que não o deixam tocar como no tempo dos cinco violinos. Deve ser das saudades.
é tão bom recordar
Deliciosa e louca juventude, não é?
Mas que história! Fiquei enternecida. Acho que já não se fazem histórias como estas nos dias de hoje.
Ai a menina...eu que pensava que era bem comportadinha, eheh
foi coisa que nunca fiz, baldar-me ás aulas, cá pra nós também não podia, uma das irmãs mais velhas trabalhava na dita escola e como tal já ves...control apertado, se bem que depois das aulas sempre se arranjav alguma coisa
bons tempos
Umas das minhas músicas preferidas e uma das palvras que mais goto de ler: gargalhar.
bjs
Belas recordações!
Também gosto dessa canção mas já me apanhou mais à frente na vida! :-))
Abraço
SEMPRE SE DISSE QUE DE ONDE NÃO SE ESPERA É QUE ELAS SAEM.
Rebolar nas folhas, ir para a toca da oliveira e que mais, para além de tocar e cantar?
Não consigo cumprir as promessas feitas e como a Sra SI, foi apanhada na ratoeira, cá estou a opinar, secalhar armado em inconveniente, mas gósto de contos que marcam a infancia, quando os mesmos são prazer e não de tristeza.
Também tenho destes momentos na minha memória, Si. Sobre «leõezinhos» é que a história é ligeiramente diferente. Mais ligada a verdes e lagartos. Essa música, de que gosto imenso, tem, para mim, uma já insuperável associação desportiva. :-D
Aos meus queridos comentadores:
lamento desiludi-los, mas a história é imaginada, tal como indica a etiqueta 'De dentro de Si'.
Tem inspiração em factos reais - como a ligação à música e às guitarras - mas a balda às aulas nunca o foi.
Considerem pois este texto como o desabafo de uma frustração juvenil de nunca ter dado 'tiros' nem, muito menos, ter acertado num leãozinho....;))
É, é! Deve ser, deve!
Guitarradas, cigarradas, cantorias por esses campo afora, flores silvestres nos cabelos, melodias trauteadas e depois a culpa é dos melros... sim Sinhora!
Patti,
Não me diga que ficou com inveja?? ;D
Je?
Je é loura e aquelas flores nos cabelos eram todinhas para mim! E o tigre ou o leopardo ou lá o que era também!
Humpf!
Loura, hein?
E de óculos escuros, suponho....
Atente bem nestas palavras, Patti, nunca se sabe o que poderá daí advir................
Esta agora escapou-se-me!
Mistérios, Patti, mistérios da blogosfera.................................................................................................................................
Cusquices.
E eu alguma vez perco tempo com cusquices????
Ó Sra. PresidentA, olhe que isso nem parece seu!!
As únicas cusquices a que eu atento são aquelas que lhe enchem os bolsos!!
Não há cá mais conversa, quando a coisa se mete pelo subentendido, acabou-se!
Ahahahahahaha,
Não são subentendidos, apenas ainda não entendidos, porque ainda não chegou o tempo certo!!
Não se preocupe, estes mal entendidos vão, em breve, ser esclarecidos e muito bem esclarecidos, aahahahahah
Ensandeceu a minha assistentA. 'Tadita, deve ter sido com as pintas da onça ou do lince...
Ai, não me faça rir mais ou o jantar nem desce!!
Um dia destes hei-de lhe provar o meu completo juízo e a mais eficaz e eficiente assumpção das funções no BB..
Olha, agora anda-me à procura de protagonismo no Big Brother!
Que saloiada!
BB = BlogoBairro, sinhora, ai que distraída que ela anda, já nem reconhece a sua própria sigla....
P.S. Aconselho uns óculos escuros com um pouco de graduação, para ver se a coisa melhora, tsk,tsk,tsk
Sim filha!
Sempre que a malta começa a falar por siglas, é porque já anda metida em coisas do submundo...
Não é bem como dizia a canção « Recordar é Viver », mas que às vezes nos arranca uns sorrizozinhos, lá isso arranca :)
O leãozinho anda de juba caída,está mesmo a precisar de uma cura de rejuvenescimento.
Há tanto tempo que não lia os teus textos e tantas eram as saudades.
Beijos
estava preocupada com a balda às aulas e ainda por cima às de Matemática;D. Fiquei descançada com o esclarecimento. É que estava já a ver-me a passar um raspanete.
Texto delicioso, como sempre.
beijinhos com raios de sol
Hummm...eu lá pelo colegial matava aula às vezes...e nessas escapadas muito bem calculadas, com hora marcada para voltar, a gente fumava.Na época era moda...coisa de intelectual...e de mulher bem resolvida e independente.Acho graça da grande mulher que eu era aos 16 anos.Só tinha tamanho, mas juízo, não muito.E sempre tinha no grupo alguém que tocasse violão.Sim, e essa música era um clássico da época....rsss....
Adorei a lembrança!!!
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