Quem me segue desde o início, mesmo antes de ter um blog meu, sabe que em finais de 2007, por questões profissionais, estive uma semana em Shenzhen, uma cidade do sudoeste da China, fronteiriça com Hong-Kong e povoada por 14 milhões de habitantes.
O que este vídeo revela, infelizmente, não é ficção. Assisti a cenas quase iguais, apenas com uma diferença: a idosa e a estudante que as protagonizaram não faziam qualquer tipo de triagem; sentadas sobre os calcanhares, no meio da passagem aérea em frente ao nosso Hotel, aproveitavam o crepúsculo para, com menos vergonha, inclinar o balde do lixo e de lá comer directamente.
Em ambas as situações, pedimos aos nossos anfitriões que esperassem um pouco para lhes podermos comprar comida. Recusaram educadamente, porque a polícia estaria demasiado perto. Coincidência ou não, nunca mais as vimos depois disso.
E, a este propósito, pergunto: que conclusões tirar sobre a comparação entre os hábitos dos povos chineses e portugueses, uns com uma tradição milenar de espírito de sacrifício colectivo e de trabalhadores altamente produtivos, outros com rendimentos mínimos, subsídios de desemprego e baixíssimos indíces de produtividade, perante a crise financeira que se abateu sobre o planeta?
Ah! E sugiro que, antes de responderem, se lembrem primeiro daquilo que ficou na travessa e no prato do vosso jantar de ontem...
17 comentários:
Pois...eu lembro muitas vezes, até chego a dizer que é um "crime" que cometemos.
Sempre me ensinaram que "há para comer e não para estragar" palavras da minha mãe, cá em casa tento não estragar, mas uma vez ou outra acontece...
O video é muito real, infelizmente
Chocante!
Sem palavras!
Abraço
1ªObservação:Não deixei nada no prato (sempre me obrigaram a comer tudo do que me servia) e o que ficou na travessa,guardei no frigo para hoje.
2ªObservação:Nosso povo com índices de "baixíssima"produção?Quem disse?Algum capataz,se calhar
3ªObservação:Não é o que fica nos nossos pratos que cria a fome no mundo,antes o que os Tubarões comem
e os Vampiros bebem.
4ªObservação:O vídeo foi feito,não sei se por humanidade,mas se fosse eu,teria cuidado em escolher uma família chinesa com menos filhos,talvez um.
4ªObservação:gostei do post que me provocou uma verborreia de se lhe tirar o chapéu!Abraço
Nem vou ver o filme; vi tanta miséria em África e na Índia, vejo tanta miséria em Portugal (que muitas vezes pparece que estou na Índia) que, muito dificilmente, vai comida da minha casa para o cesto do lixo.
:(((( Tal como a Gi já vi imensa miséria e infelizmente não é preciso ir muito longe.Av.Almirante Reis ......
Alguém morrer de fome, é qualquer coisa que me ultrapassa, revolta e me choca. No entanto não vou ser hipócrita e ainda há pouco deitei uma porção de salada russa pela pia abaixo, que ninguém ia comer.
A ironia de tudo isto, é que como o próprio filme mostra, fazemos todos parte de uma pirâmide e até esse pai de família contribuiu para a formação dessa mesma pirâmide, ao escolher os melhores restos para a sua família e a demais comida para as crianças e cães do bairro.
Mas o que me choca verdadeiramente, é o que a Si relata: não podia dar comida àquela avó e neta porque a polícia andava por ali: aonde o ser humano chegou!
Vou mostrar à Beatriz.
Si, nunca sei o que diga perante estas situações, num mundo revoltantemente desigual mas, do mesmo modo, revoltantemente desgovernado (e talvez ingovernável).
Querida Si
hoje estou demasiado fragilizada para ver o vídeo.
Venho cá amanhã
Enquanto raça deveríamos ser extintos.
Sempre dei muito valor ao que a minha mãe me conta como viveu quando era pequenina. Foram anos difíceis, de racionamento e necessidade por circuntâncias da guerra mundial. A refeição principal era uma sardinha no pão, a dividir por três. Eu raramente deixo alguma coisa no prato, procuro ser racional e não desperdiçar. Revolta-me assistir a episódios como estes em que se importam mais dar a aparência mentirosa que tudo está bem do que alimentar a realidade de quem precisa.
Boa, esta atitude de pôr o dedo na ferida.
Cá em casa, há coisas em que não sou nada condescendente. Comida desperdiçada não.
Um beijo.
O meu comentário vai no da linha da Patti, no caso da nossa comida que vai para o compustor e pelo facto de não se ajudar porque vem a policia.
O animal Homem é uma besta.
Não é preciso ir tão longe, Si... eu vejo essa miséria em Lisboa, todas as semanas, pelo menos uma vez...
Esta miséria, este mundo injusto e desigual - a quem interessa esta situação? pois se há alimento que chegue para todos, riqueza que poderia pôr toda a gente a viver dignamente...
nem sei que diga ...
e sim.... lembrei-me dos restos da travessa :(
bj
teresa
Me incomoda mais, pensar no que eu deixo de fazer para mudar essa situação, do que conviver com as multiformas dela todos os dias:(
Angustiante... :(
Eu dificilmente deito comida fora simplesmente porque me fez sempre confusão pensar que pode haver alguém a morrer de fome. Claro que por vezes lá vai mas por norma não o faço.
Beijinho
Si .. que mais acrescentar ao que tão bem foi dito? Que nos queixamos de barriga cheia? Sempre. Mas sempre, mesmo.
Obrigada por ter carregado nessa ferida .. * acho que andamos todos a precisar que alguém nos lembre o que realmente é importante. A vida, esse dom magnificio que alguns conseguem, é muito mais dificil do que pensamos.
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