segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

adeus, até ao meu regresso



Tomem bem conta desta casa, deste bairro e não se esqueçam de cumprir as normas para não me encherem de papelada, sim?
Eu volto, logo, logo.



Até já!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

parasimpattias # 4


Exercício: Era uma vez...

Era uma vez uma Raínha belíssima que, bordando no bastidor, junto a uma janela de ébano, se picou inadvertidamente. Três gotas do seu sangue caíram em cima da neve do beiral e ela desejou ter uma filha que fosse tão branca como esta, tão negra como a nobre madeira das portadas e tão rubra como o sangue que derramara. E assim foi. Branca de Neve nasceu com uma pele alva, cabelos de azeviche e uma boca vermelha que haveria de despertar ódios e amores profundos....

A pena caiu para a frente formando um imenso borrão de tinta, que se espalhou pelas fibras de papel de trapo. E aproveitando a sonolência do Escritor, a Protagonista escapuliu-se, deixando atrás de si pegadas minúsculas que se foram desvanecendo e encobrindo o seu rasto.
Só de madrugada deu pela sua falta. Depois de um ronco mais profundo que o despertou sobressaltado, tentou escrevê-la mas ela não apareceu, deixando-o a ele à beira de um ataque de nervos e às outras personagens num burburinho surdo de impaciência.
- Que falta de respeito! - dizia o Caçador que lhe haveria de poupar a vida
- Eu já sabia que isto ia acontecer! - sobrepunha a Madrasta-Feiticeira olhando as longas unhas - Eu é que deveria ser a protagonista e não uma criaturinha desinteressante daquelas!
- Nós nunca mais vamos conseguir terminar esta história, nunca mais... - vaticinava o Anão Resmungão, abanando a cabeça e cofiando a barba.
Irritado, o Escritor bateu com o punho na mesa e mandou-os calar. - Que mistério este! - desabafou - Precisava de a encontrar ou todo o seu esforço de criação teria sido inútil.
O Príncipe Perfeito ofereceu-se. Montado no seu alazão branco, arreado a dourados, partiria na direcção das pegadas desvanecidas, saindo pelo papel fora, num salto arriscado de várias frases, capa solta ao vento e coroa muito direita na loira cabeça.
Aterrou em cima de um livro poeirento e estacou, convencido de ter ouvido um ruído nas imediações. Decidiu segui-lo e percebeu que de lá de dentro vinham vozes alteradas, altercações, canções desafinadas, gargalhadas, palmas e assobios. Cada vez mais intrigado, embrenhou-se por uma frecha das páginas carcomidas, descobrindo, por entre casulos vazios de traças, um caminho secreto que o haveria de levar quase até à lombada. Habituado que estava a viver em palácios faiscantes, teve alguma dificuldade em se adaptar à escuridão daquele covil e, mais ainda, em acreditar naquilo que os seus olhos iam vendo.
O vinho, despejado para dentro de grosseiras canecas de barro, corria a rodos, servido por gnomos submissos vestidos apenas com aventais de carneira; no piano, de saia arregaçada até à liga e sapatinhos de cristal espalhados pelo chão, Cinderela ensaiava uns acordes com os dedos dos pés, entre duas baforadas na comprida boquilha; esvoaçando sem controlo e visivelmente alterada na sua capacidade de raciocínio, a Fada-Madrinha espalhava feitiços aleatórios pela ampla sala, onde já pululavam coelhos encartolados, grasnavam gansos de oiro e coaxavam sapos reais. Rapunzel, soltava risinhos histéricos, divertida a fazer tropeçar os gnomos que se esgueiravam por entre as mesas com louças encasteladas, laçando-os como bezerros nas suas próprias tranças; e ao canto, iluminada pelo spot-light, Branca volteava-se sensualmente no varão, de body-verniz e botas-plataforma a condizer, lançando beijos em forma de coração a uma plateia ávida de lhe provar aqueles lábios encarnudos.
Acabara de se apoiar numa coluna, para se manter em cima das trémulas pernas e evitar sucumbir ao quase desmaio, quando Branca reparou nele. Calmamente, deslizou pelo varão, recolheu as notas que lhe estendiam, escondendo-as no decote, e saiu do palco bamboleante, pelo meio dos protestos cavernosos do seu maior fã, o Gigante Fi-Fó-Fum.
Sem rodeios nem desculpas, explicou ao Príncipe a razão da sua fuga: elas, as Protagonistas e Personagens Mágicas de Boa Índole dos Contos de Fadas, estavam saturadas de serem as boazinhas, as bonitinhas, as mártires da perfeição e das moralidades; e então aquilo de viverem felizes para sempre com o mesmo ricaço, deixava-as tolhidas para enfrentarem a eternidade, compelidas a cumprir apenas os destinos alheios.
Balbuciante e pouco convincente, ele ainda lhe falou dos deveres, dos compromissos assumidos, da dependência de outras personagens, da alma criativa do Escritor, mas Branca estava irredutível: saíra daquele filme para não mais voltar.
Desesperado, o Príncipe utilizou um último argumento. E então as crianças? Como ficariam elas se a magia não existisse nas suas vidas, se o bem não vencesse sempre o mal, e a felicidade fosse tão somente algo efémero?
Branca vacilou; afinal elas eram o seu ponto fraco. Suspirando resignada, aceitou regressar, mas com uma condição: a cada doze meses exactos, todas se voltariam a reunir naquele mesmo local, para viverem, por um dia, as suas próprias fantasias.
Pois desde aí, e caso nunca tenham reparado, há sempre uma altura no ano em que os pais deitam os filhos mais cedo e os filhos adormecem mais tarde, porque as histórias simplesmente não acontecem, excepto num livro poeirento e carcomido que nunca se deixou ler por ninguém.

Eu prometi que iria sacudir sacudir o vosso imaginário.
Que terá feito a Patti para o conseguir?


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

marquem na agenda


Chega amanhã mais uma 4ª feira.

A primeira, de um mês novinho em folha, a estrear.

Nesta edição, prometemos sacudir o vosso imaginário.

Quem quiser estar presente, inscreva-se na caixa de comentários.

Plateia, balcão ou camarote?