
Já há muito que não escrevia sobre este tema.
Mas a verdade é que continua a impressionar-me a desresponsabilização que muitos pais ostentam relativamente à educação dos seus filhos, desculpados e escudados por detrás de horários sobrecarregados de trabalho, carreiras, 'quality time' a dois, ou até mesmo a um, e outros chavões batidos.
Arrepia-me a enorme confusão nas cabeças de adultos inteligentes, que inibidos pela palavra 'não', atribuem o papel de educadores aos professores, quando a estes se deveria exigir apenas aquela coisa estranha de que usem o tempo lectivo para ensinar as respectivas matérias.
Sei que provavelmente serei injusta, relativamente a muitos que se desdobram em horas extraordinárias e até mais do que um emprego, para fazer face aos muitos obstáculos que se atravessam nas vidas de quem as quer levar de cabeça erguida, mas quantas vezes já me passou pelos neurónios se não seria melhor que estes pais não tivessem andado a brincar às casinhas, com um Nenuco de carne e osso; e se todos nós não estaremos a cometer um gravíssimo erro em aceitar placidamente as bandejas estendidas.
Vem tudo a propósito desta notícia. E desta não-notícia, que entretanto li, e aqui junto para melhor esclarecimento.
Será que alguém me pode explicar devagarinho como é possível que o Estado - que, por vontade própria, assume as responsabilidades de prestar serviços a nível da educação, durante 12 anos da vida de um jovem, gastando com isso milhares de euros - deite a perder esse investimento com este tipo de atitudes, quando, supostamente deveria ser ao contrário? Poderá ser muito descabido pensar que se deveriam fazer render ao máximo os dinheiros públicos usados, formando com exigência profissionais competentes, que viessem a dar retorno ao país através da aplicação dos conhecimentos adquiridos em actividades económicas geradoras de riqueza?
Já não bastava, portanto, tudo o que os pais porreiraços fazem para manter as suas crias satisfeitas e caladinhas.
Já não bastavam os telemóveis, os i-pods, mp3, mp4, playstations e afins dentro das salas de aula, psicólogos para traumatismos com a autoridade, bullyings, gangues e passagens administrativas até ao 12º ano.
Faltava ainda este colo, para quem nunca se interessou pelos estudos e vai tentar um último milagre, a bem das estatísticas, até porque se não conseguir, haverá, certamente uma nova oportunidade à sua espera.
E entretanto, os meninos e as meninas ficam convencidos de que a vida é assim, de que tudo cai do céu sem esforço e que as esquinas são o melhor sítio para as aguardar: assim, vazios de objectivos, de interesses, de conhecimento básico, de produtividade futura.
Como mãe, isto deixa-me furiosa e intrigada: será que é isto que realmente queremos para os nossos filhos?
E, já agora, que fique bem claro: não sou professora, mas, definitivamente, não alinho em presentes envenenados e muito menos na apologia da incompetência.